segunda-feira, 30 de maio de 2011

Notícias

Só para dar notícias.

Leti está ótima!!!!

A perna está sem vestígio dos carocinhos, está sem gripe (que insistia em não deixá-la), andando mais, abaixando-se mais, conversando mais, cantando mais, brincando mais. Estereotipando menos. Linda demais!

Tem dado crise de ciúmes. Com os bichinhos de pelúcia. Sentindo a maior receptividade dela, vinha instigando-a a beijá-los, abraçá-los e fazer carinho neles. E ela tem respondido bem. Mas quando os pego e os abraço, para fazer demonstração, ela mostra sua tolerância zero, jogando-os para longe, dizendo "quer babãe" e puxando meu rosto para me beijar. Ohhhh, eu nem gosto... rs

Despertou para o brincar de bola. Ontem à tarde fomos brincar na pracinha e ela se divertiu jogando bola, tentando chutá-la e correndo para nos pegar. Foi uma delícia!


quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ainda sobre o Son Rise - ismos

Pela primeira vez me senti instigada a fazer um post aqui no blog para tentar fazer umas ponderações sobre alguns comentários deixados em um outro post (no caso, o de son rise). Adorei isso! Porque a minha ideia ao criar um blog era exatamente a de trocar experiências; repassar o que aprendi e aprender mais com tantas mães maravilhosas aqui nesta blogosfera. Então, vamos ao que interessa.


Demorei a voltar ao assunto porque minha vida continua numa correria desenfreada (alguns dizem que meu dia deve ter mais de 24h - que bom seria...) e porque queria, ao retornar ao assunto, trazer uns videos de Leti, para tirar a discussão do plano puramento teórico, e trazê-lo um pouco para a prática. 

Consegui fazer uns videos hoje. Só não sei se vou conseguir colocá-los aqui, porque acho que configurei a câmera errado e não estou conseguindo abri-los aqui no note.

Mas, enquanto vou tentando resolver meus problemas técnicos, vou começar minhas divagações.

A primeira coisa acerca da qual gostaria de falar veio de um comentário de Mari, cujo trecho transcrevo a seguir:

"percebi que o ponto que te traz mais sofrimento são estes "ismos". será que por isso não consegue "embarcar"? concordo com vc que pode reforçar, mas por outro lado pode fazê-la perceber o que está fazendo de maneira mais clara, além de te dar mais ferramentas para lidar com isso.

quais são os prejuízos que estes "ismos" trazem de verdade? qual a vantagem de impedi-los? porque vc coloca este como um comportamento não aceito socialmente."

Os ismos, ou estereotipias, como costumo chamar, são de fato, o que mais me incomoda dentre as características autísticas de Leti.

Parando para refletir sobre o assunto, e sobre as significativas contribuições de Karla, fui tentar descobri o por quê.

Embora até então não tivesse me dado conta disso, cheguei à conclusão que as estereotipias me incomodam porque elas são o espelho do comportamento autista em minha filha. Percebi bem isso na Disney, quando, no desfile do Magic Kingdom, enquanto estávamos sentados esperando o início, ela começou a balançar a mão com o sonzinho típico (que não sei descrever, por isso quis filmar) e Lipe, que estava ao meu lado, começou a imitá-la. Me senti péssima de ver o comportamento da minha pequena estigmatizado na imitação do irmão. Minha atitude na hora foi censurá-lo. Mas, quando ele me perguntou por quê, não soube dar uma resposta coerente com a minha reação.

Não sei descrever o que senti. Mas, nesses momentos, a minha reação imediata é tentar tirá-la do comportamento estereotipado, para evitar julgamentos e comentários maldosos daqueles que não nos conhecem.

Passei a me perguntar, então, se realmente, ultrapassei o primeiro pilar do son rise que é a aceitação.

Nunca tinha parado para refletir sobre isso porque achava que, a partir do momento em que passei a encarar com naturalidade o fato da minha filha ser especial, falando sobre sua situação, com conhecidos ou estranhos, sempre que o papo dava margem, isso teria sido o grande marco da minha aceitação.

Mas vejo que não aceito bem essas estereotipias, e o son rise diz que devemos aceitar tudo que vem associado à condição especial da criança, entendendo que ela sempre faz o melhor que pode, dentro das suas limitações.

Dentre os ismos de Leti, o que mais me incomoda nem é o que, normalmente, a expõe em público, mas um que desenvolveu por volta do décimo quinto mês de vida, e que parece causar-lhe uma sensação de desconforto que é difícil de contornar.

Em todos os eventos que tenho participado, nunca ouvi relato de um ismo parecido. E é em relação a este que não consegui fazer a imitação. Ela se contrai, leva as mãos em direção às pernas, e fica no movimento repetitivo até suar de molhar toda a roupa. O olhar perdido. Mas às vezes nos olha, e demonstra estar ligada no mundo, reagindo a algumas intervenções nossas. De vez em quando, choraminga; mas normalmente, não. Às vezes, faz dormindo. Abaixo, um video (antigo, porque não consegui baixar o que fiz hoje).





Não é convulsão, nem refluxo, nem infecção urinária, nem problema gastrointestinal. Já investigamos. É um ismo, uma estereotipia.

Quando voltamos do workshop, até tentei o "juntar-me", que é como falam sobre o ato de estar junto e imitar o ismo. Mas não consegui por muito tempo e acho que não surtiria o menor efeito, porque ela mal nos percebe quando está assim.

Nestes momentos, o que acabo fazendo é pegá-la no colo e tentar distraí-la com outra coisa, preferencialmente, posicionada de maneira que consiga mantê-la com as pernas afastadas.

Às vezes funciona rápido. Outras, não. Quando está doentinha, percebo que piora muito. Como se fosse uma maneira de demonstrar que não está bem.

Hoje mesmo, quando fui colocá-la para dormir, ela ficou no movimento por uns 10 minutos sem qualquer intervenção minha (meio dormindo, meio acordada). Depois de 10 minutos peguei-a no colo (estava encharcada de suor) e deitei na rede com ela (de bruços em cima de mim). Em menos de 1 minuto ela se acomodou, dormiu e não repetiu mais o movimento. Já acordou para tomar o leite e dormiu de novo, desta vez sem colo, e sem a estereotipia.

Mas nem sempre é assim. Não consegui descobrir uma maneira que faça com que saia do ismo da mesma forma sempre. E por isso este ponto me desestrutura muito. Por que às vezes ela fica por muito tempo dessa maneira, suando (o que piora suas dermatites), com expressão de desconforto e nada do que façamos a deixa mais acomodada.

Em relação aos outros ismos, já tentei fazer a imitação e, às vezes, ela me olha e pára. Às vezes não faz diferença.

O fato é que o que o son rise busca com a imitação é fortalecer o vínculo da criança e melhorar seu contato visual o que, acredito que em nossa situação, seja um aspecto que já não mereça tanto enfoque, já que Leti hoje tem um vínculo forte com as pessoas da família e um contato visual também satisfatório.

Embora isso tenha sido coisa conquistada. Sem son rise e sem imitação de estereotipias. (Seu contato visual era péssimo, parece que olhava através das pessoas, frequentemente ignorando-as.)

Tentando responder o questionamento de Mari, acredito que o prejuízo que o ismo traz, principalmente, é favorecer que a criança fique fechada em seu mundinho, e pouco disponível à interação social. É como se fosse uma forma de autorregulação.

Percebo que Leti se balança para frente e para trás, ou movimenta a mão direita para frente e para trás, emitindo um som (semelhante a um an an an), mais frequentemente, quando está ansiosa ou entediada. Normalmente, quando está muito envolvida com algo, não faz tais movimentos.

Falo em movimentos não socialmente aceitos porque destoam do típico, e porque, como acabei descobrindo ao escrever esse post, expõem a condição da minha filha para quem presencie a situação, sem que eu tenha a oportunidade de contextualizar a temática.

Ana Paula e Karla, mãe e irmã especiais, respectivamente, vieram aqui para falar da suas experiências exitosas com o son rise, o que, sem dúvida, só vem a acrescentar.

Concordo plenamente com o que Ana diz, quanto a usar nossa sensibilidade para perceber o que realmente funciona ou não, de acordo com as necessidades da criança, conhecer todas as abordagens possíveis, misturá-las e usar tudo o que servir.

Foi exatamente isso que quis dizer ao escrever meu post: que devemos conhecer de tudo e aplicar o que se adequa melhor à situação nosso filho; que precisamos ter senso crítico para saber o que, na abordagem, é bom para o meu fiho, e o que não é, porque sinceramente, não acredito que um único programa ou abordagem possa trazer a cura para o autismo.

Também concordo com Karla quanto aos benefícios na participação nesses tipos de curso. Sempre que posso, estou participando de eventos como esse, e a riqueza maior, sem dúvida, é o compartilhamento de experiências. Quando falei da minha decepção com a palestrante, não quis ressaltar o quanto paguei para estar lá, mas, diante da sua postura, de total indiferença aos questionamentos dos pais, fui levada a crer que seu interesse ali talvez fosse meramente financeiro, motivo pelo qual imaginei que este fosse um aspecto que poderia ter levado em consideração para ela tentar ser mais acessível aos pais da plateia (e digo, a péssima impressão foi generalizada).

Quanto às impressões de Karla sobre o son rise e seu depoimento sobre a experiência com seu irmão, o que tenho a acrescentar é que acho que ela está seguindo o caminho certo, ao aproveitar tudo de melhor que o son rise tem a oferecer. Ninguém melhor que a família para saber o que é melhor para a criança. E ela, como pessoa esclarecida e militante, uma quase mãe do Lú (junto com Luíza) tem plenas condições de fazer a triagem que acho necessário ser feita, para usar o que seja adequado na situação. Mas nem todo mundo é assim. Infelizmente.

Ao ouvir que o son rise pode curar uma criança com autismo severo, uma mãe poderia se sentir seduzida a largar todas as terapias que a criança faz, para apostar unicamente no son rise. E talvez não estivesse errada. Talvez, sim. Talvez valha à pena apostar. O importante é tomar sua decisão com consciência do que está fazendo, e não se deixar levar, simplesmente, pela promessa de que o son rise cura autismo severo, sem que seja feita uma avaliação crítica sobre a abordagem.

Com o son rise, aprendi que tenho que brincar com minha filha por inteiro, responsivamente, respeitando seus interesses, celebrando cada pequena atitude que demonstre seu aprendizado, sua interação, seu afeto. Mas não acho que preciso de um quarto de brincar nos padrões do son rise, posso brincar em outros cômodos da casa, no playground, na pracinha, no parque.

É claro que acredito que a criança pode sair do espectro autista (uma consulta com uma psiquiatra na última sexta fez com que eu parasse para me questionar se Leti efetivamente pode ser considerada autista. Mas isso é assunto para outro post). No dia em que deixar de acreditar nisso, não fará sentido tanto investimento (e quando falo investimento, não falo em dinheiro, mas em estudo, em buscas, em discussões, em contatos...). Mas não acredito (não mesmo!) que só com son rise, ou com (só) qualquer outra terapia, abordagem ou programa, isso seja possível.

Para encerrar o assunto, estou colocando aqui uns videos antigos que tinha no micro, porque, de fato, não consegui baixar os que fiz há pouco. No primeiro, o balanço que, na ocasião, estava discreto. No seguinte, batendo a cabeça contra a parede. Ela fez isso por uns três meses (eu ficava louca), mas depois parou e nunca mais fez

 

 

quarta-feira, 25 de maio de 2011

De partir o coração

Filho, definitivamente, não devia ficar doente. Devíamos ter o poder de absorver todas as enfermidades que estão programadas para eles.

Mas, infelizmente, a vida não é assim.

Desde cedo sofro com problemas respiratórios, que vão de gripes, sinusites e faringites, a otites, e, uma única vez, graças a Deus, a uma pneumonia. Foi a mesma novela com Lipe, como tem sido com Leti. Tenho esperança de que com a cirurgia de adenóide dela melhore sua qualidade de vida, como aconteceu com meu pequeno varão.

Mas não é disso que falo agora. É de um problema de pele.

Leti tem uma tendência a dermatites, basta esquentar um pouco que o corpo enche de carocinhos. Terrível! Já levei a 3 dermatos diferentes, porque custava a acreditar que aquele estrago na pele da minha filhota fosse provocado apenas pelo calor, mas todos deram o mesmo diagnóstico.

Na última segunda, os carocinhos apareceram numa proporção maior de novo (sem nenhum deles, ela quase nunca fica). Comecei a usar os cremes que o último médico tinha passado, certa de que se tratava da mesma coisa.

Mas 48 horas se passaram e os edemas ficaram piores: avermelhados, descamados e em várias partes do corpo. Chegaram a me ligar da escola hoje, para saber se eu estava tratando.

Resolvi, então, pedir para um médico olhar, mas achando que me diria a mesma coisa que sempre ouço.

Para minha sorte, meu prédio é quase uma policlínica, com médicos competentes de diversas especialidades e, atendendo a minha súplica, um anjo de saias, com formação em medicina, e especialidade em dermatologia, veio a minha casa hoje à noite para ver a minha princesa.

Surpreendentemente, o diagnóstico desta vez foi diferente. É uma crise alérgica e já teve infecção por fungo (e a ignorante aqui tratando outra coisa).

Prescreveu a medicação adequada, que fui comprar imediatamente, e agora espero, desesperadamente, que ela fique boa logo, porque isso deve estar incomodando horrores.

Olha o estrago aí (e nem dá para ver direito na foto):



terça-feira, 24 de maio de 2011

Uma coisa de cada vez

A primeira alegria foi quando ela conseguiu fazer a transferência de deitada para sentada (com 1 ano e meio). Depois engatinhou. Passou a ficar de pé com apoio. Começou a dar uns passinhos apoiada pelas paredes. Arriscou-se de um móvel para outro. Tentou pequenos trechos sem apoio. Até que surgiu a marcha. Meio tosca, é verdade. Cambaleante. Mas suficiente para lhe dar a autonomia do ir e vir. Ela ainda não tem tanta segurança, anda por áreas enormes, mas quando acha um apoio, segura-se. Até então não tinha mobilidade para abaixar-se e voltar para a posição de pé, sem sentar-se. Nem com apoio. Quando voltamos a fazer fisioterapia motora, a fisio me perguntou quais eram minhas prioridades. Disse-lhe que eram a marcha mais segura, e a habilidade de abaixar-se e levantar-se, sem qualquer apoio.

No fim de semana, percebi que ela já se abaixava para pegar algo no chão (sem precisar sentar, como sempre fazia), apoiando-se na parede. Agora há pouco precisei conter a emoção ao presenciá-la abaixar-se para pegar o controle remoto no chão e levantar-se sem se encostar em absolutamente nada.

Aposto que a maioria dos pais não se lembra quando isso aconteceu com seus filhos. Com a minha foi hoje. Essa é a diferença de ter um filho especial: cada pequena conquista deve ser, sempre, fruto de grande celebração.

Escrevi apenas para compartilhar minha felicidade.

Tenham todos um excelente dia!

domingo, 15 de maio de 2011

Son-Rise

Nos dias 01 a 03 de abril estive em Florianópolis com Samir, para participar de um Workshop sobre Son-Rise, abordagem terapêutica educacional para tratamento de crianças autistas.

Sempre depois de um curso, gosto de parar para escrever sobre ele porque isso me permite reforçar e sistematizar o que aprendi e criar um juízo de valor acerca da sua utilidade prática em minha vida.

A proposta do son-rise é sedutora! A abordagem foi criada, por um casal de pais, na década de 70, para ser aplicada em seu filho, criança com diagnóstico de autismo severo, quando todos os profissionais haviam retirado desses pais qualquer esperança de melhora no estado de interação daquela criança.

Confesso que não fui para o curso com a pretensão de aplicar a abordagem em Leti. Sabia que todo o trabalho partia da brincadeira (já tinha um livro com algumas propostas de brincadeiras, com base no son rise) e o que buscava ali, de fato, eram alguns insights para poder melhor brincar com minha filhota.

Mas saí com uma certeza no coração: minha filha está no espectro autista. Já tinha esta suspeita, mas saí  de lá com esta convicção, mesmo sem que qualquer médico tenha me dado tal diagnóstico.

Como a abordagem é bem direcionada a autistas, o curso se iniciou tratando um pouco do autismo.

Hoje em dia, dificilmente se diz que uma pessoa é autista. É mais comum a utilização da expressão "estar no espectro autista". Eu ouvia muito a expressão, mas não tinha uma ideia exata do que se tratava. Tirei algumas dúvidas lá. O autismo clássico normalmente acarreta uma interação social comprometida, pouca linguagem funcional e interesses restritivos e comportamentos repetitivos.

Como são três características, e que podem apresentar variações em diversas escalas, chegou-se à conclusão que o autismo na criança pode-se apresentar de distintas maneiras e graus, o que se levou à utilização da expressão espectro autista.
Dos aspectos típicos, a dificuldade na interação foi um que sempre chamou atenção em Leti. Ela não olhava nos olhos, não respondia quando chamada, não sorria às brincadeiras que faziam com ela... Isso já teve uma grande melhora. Mas ainda discrepa muito da criança típica. De vez em quando, ainda percebo a frustração das pessoas que não a conhecem, quando fazem uma gracinha e ela não dá a mínima.

Sua linguagem funcional ainda não aflorou como gostaria, mas, neste aspecto, acho que é só uma questão de tempo. Fala umas palavras, já se expressa um pouco, demonstra entender o que falamos. É o que menos me preocupa dentre as características autísticas.

Em relação aos interesses restritivos e comportamentos repetitivos, tenho grande preocupação. Percebo muito isso na minha pequena. Seus interesses são notoriamente restritos. Apesar de ter inúmeros brinquedos, poucos a interessam. Nesta fase, tem curtido teclados, massinha de modelar e... só. Com a massinha, tem se restringido ao movimento repetitivo de fazer a cobra. E tem repetido o movimento com gizes, lápis, e outros brinquedos. Temos tentado transformar isso, mas está difícil. O teclado, gosta de tocar. Mas enjoa logo. De vez em quando, brinca com outra coisa, como o basquete, uns bloquinhos, comidinhas, mas, na maior parte das vezes, leva o brinquedo à boca. Com brinquedos de ação e reação interage bem. Aqueles que a gente aperta um botão e um bichinho aparece, ou toca uma música. Ela aprende logo a manejá-los e fica no aperta aperta por um tempão. Devagar e sempre vamos tentando ampliar seu interesse pela brincadeira.

Comportamentos repetitivos. Estereotipias. Ismos (para o son rise). Ela tem muito! Em alguns momentos, mais; em outros, menos. É o balanço para frente e para trás (que faz muito), o balançar da mão (flapping), o barulhinho repetitivo (que não sei descrever), as contrações abdominais.

Isso me enlouquece. Porque não sei como lidar. Não sei se devo obrigá-la a interromper, se devo distraí-la para que pare sozinha, se devo deixá-la para ver até onde vai. Às vezes choro de desespero por não saber o que fazer nesses momentos.

É também o ponto mais polêmico do son rise. Porque eles sugerem que entremos no mundo da criança e, nesses momentos de ismos, façamos uma espécie de imitação do movimento, sem julgamentos, para entendermos as sensações da criança. Se ela se balança para frente e para trás (o que descobri ser muito comum em autistas), ficamos ao seu lado e nos balançamos também. A ideia é tentar descobrir a sensação prazerosa que o ismo proporciona e tentarmos oferecê-la num comportamento socialmente aceito.

Sinceramente, não me sinto à vontade, e nem acredito que a repetição fará com que a estereotipia desapareça. Acho que a reforça. Fora que não há nenhum embasamento teórico que demonstre o benefício da técnica da repetição. É tudo muito empírico.

Pois bem. Já que comecei a falar da técnica, melhor que o faça do começo.

O programa son rise deve ser dirigido pela família. A família faz um treinamento com profissionais do son rise, é traçado um perfil da criança, são determinados os objetivos do programa e, a partir daí, alguns voluntários serão selecionados para ficar por horas com a criança, no quarto de brincar montado em sua casa, estimulando-a. Os pais orientarão os voluntários passam a assumir a direção do programa.

O foco principal do programa é favorecer a interação, o olho no olho. A interação tem que estar bem estruturada para que se passe a trabalhar objetivos específicos com a criança. Acredita-se que, com a interação normal, o aprendizado e o desenvolvimento surgem espontaneamente.

São pilares da abordagem:

1) Aceitação, que é diferente de resignação, de pena. É a aceitação plena da criança, da maneira que ela é, sem julgamentos, associada à crença de que ela faz o melhor que pode.

2) Valorização é a ênfase aos talentos, às possibilidades. É procurar encorajar a aprender mais, estimulando sempre a auto estima.

3) Celebração. É a comemoração verdadeira pelas habilidades que a criança já tem, pelos precursores de uma nova habilidade e pelas habilidades novas, quando adquiridas. O tempo todo, no son rise, pratica-se a celebração.

Fala-se muito também em interação responsiva, no sentido de seguir os interesses da criança e dar resposta imediata a todo e qualquer comportamento da criança, fazendo com que ela se sinta controladora da situação.

A razão da responsividade é favorecer a interação da criança com seu mediador, e fazer com que ela perceba que, interagindo, da menor maneira que seja, ela pode conseguir tudo o que deseja.

À medida em que a interação vai se estabelecendo de maneira mais sólida, passa-se a solicitar um pouco mais da criança, nos momentos das atividades, até que se consiga chegar a nível tal de interação e desenvolvimento que as características autísticas da criança passem desapercebidas.

Não conseguiria resumir aqui tudo o que aprendemos em três dias inteiros de workshop em Floripa. Repito, a proposta do son rise é sedutora, e o modus faciendi apresentado é cheio de detalhes e sugestões que não caberia repetir aqui, para não ficar (ainda mais) cansativo.

Mas tenho algumas objeções em relação ao programa.

A primeira já antecipei. Discordo da sugestão de que nos juntemos à criança para imitar suas estereotipias. Até acho legal a ideia de tentar entrar no mundo da criança para tentar tirá-la de lá. Mas imitando estereotipias, não! Logo que voltei até tentei, mas não consegui. E não acho que esse seja o caminho.

Segundo: não sei se confinar uma criança a um quarto de brincar, afastando-a do mundo, no início do programa, seria a melhor maneira de trabalhar a sua interação. Tenho sérias restrições quanto a isso.

Terceiro: não acho, ao contrário do que pregam, que o son rise seja a solução dos problemas para todo e qualquer autista. Aliás, não acho que nenhum programa, por si só, possa curar uma criança do autismo, como sugerido no curso. E acho que nós, pais de crianças especiais, temos que tomar muito cuidado ao participar de cursos como esses, que vendem a certeza da cura do autismo, para não investirmos mais do que podemos em algo que não vai nos dar o retorno que estamos esperando que dê. Não quero parecer pessimista. Acho que devemos ir em busca de cada fio de esperança de uma melhor qualidade de vida para nossos filhos (e quem me conhece sabe que não me acomodo); que devemos procurar conhecer tudo de novo que estão tentando por aí. Mas acho também que precisamos ter um mínimo de senso crítico, para sabermos avaliar o que, de fato, pode e deve ser trabalhado em nossos filhos.

E, no atual estágio em que Leti se encontra, não trabalharia com ela unicamente o programa son rise, embora, acredite que várias das técnicas utilizadas no programa podem ser utilizadas no nosso convívio familiar, com grande probabilidade de sucesso o que, para mim, já fez valer à pena a participação no workshop.

Aliás, como disse Fernando Pessoa, tudo vale à pena quando a alma não é pequena.

Por fim, não podia deixar de dizer que fiquei profundamente decepcionada com a postura da palestrante. Não tenho o que falar a respeito do seu domínio sobre o tema. Mas, num workshop direcionado a pais, com programação em seu roteiro para perguntas e respostas diárias, esperava, no mínimo, que a palestrante demonstrasse um pouco mais de interesse em esclarecer as dúvidas dos pais que, se dispondo a afastar-se de suas casas por um fim de semana, e arcando com um custo elevado para participação no workshop, chegaram no encontro sedentos de informações e curiosos quanto à adequação do programa à situação peculiar de seus filhos.

Ela tolheu manifestações, escolheu (parece que por afinidade) os inscritos que queria responder, suprimiu tempo do programa do curso reservado a perguntas e respostas e sumia nos intervalos, mostrando-se absolutamente indisponível.

No questionário de avaliação do curso, fiz minhas considerações e espero que no próximo workshop a falha seja consertada.

Maiores informações sobre o son rise no: http://www.inspiradospeloautismo.com.br/

FOTOS DO ENCERRAMENTO DO WORKSHOP

domingo, 8 de maio de 2011

A Minha Mãe

Tendemos a ser tão repetitivas quando falamos de nossas mães. Principalmente depois que temos filhos. Parece que a gente compreende melhor o sentimento delas quando passa pela mesma experiência e isso faz com que passemos a olhá-la com outros olhos e a valorizar coisas que antes passavam desapercebidas.

A minha mãe sempre fez o tipo Super Mãe, aquela que não mede esforços para fazer dos filhos seres humanos melhores e pessoas felizes. Aquela que traz os amigos para dentro da sua casa, que acompanha, que investe, que não economiza em palavras e gestos de amor.

Tenho uma referência materna inadjetivável (juro que procurei um adjetivo que pudesse expressar o que sinto, mas não consegui).

É ela que está presente em todos os momentos da minha vida, bons ou ruins; é ela que busca solução para os meus problemas aparentemente insolúveis; é ela que sempre tem uma palavra de consolo quando meu mundo parece desmoronar; é ela que larga todos os seus compromissos para poder me ajudar com minhas obrigações maternas quando surge algum imprevisto; é ela que fala com grande orgulho das minhas conquistas; é ela que sempre me recebe com um beijo carinhoso e um abraço aconchegante; é ela que reclama seus direitos quando a loucura do meu dia a dia faz com eu fique distante por mais tempo do que desejaria.

Busco, diariamente, ser para meus filhos pelo menos um pouco do que a minha mãe tem sido para mim. E lamento muito, e me culpo muito também, por não conseguir ser a filha que ela merece e participar mais ativamente da sua vida.





Quero aproveitar esse dia para fazer o que faço todos os dias: agrader a Deus pela existência da Minha Mãe e pedir-Lhe, egoisticamente, que lhe dê muitos anos de vida e saúde, para que eu possa ter sempre meu porto seguro por perto.

Te amo, mãezinha!

domingo, 1 de maio de 2011


Nono Ano
De 01/05/2010 a 30/04/2011

O Lipe de 9 anos e bem diferente do Lipe de 8, que adorava gormits e bakugans. Tudo começou com a Copa do Mundo de 2010, que fez despertar nele o interesse pelo futebol. Todos na escola colecionavam o álbum da Copa, ele resolveu colecionar também.  Com o álbum, veio o interesse pelas seleções, seus jogadores, seus títulos, suas bandeiras, suas peculiaridades.  Das seleções, passou para os times: nacionais e internacionais.  E como tudo de que ele gosta, ele pesquisa profundamente, foi assim também com o futebol. Fiquei impressionada com a rapidez com que ele aprendeu sobre futebol. Da noite para o dia ele começou a discutir futebol com o pai (futemaníaco) de igual para igual; ele sabia dos resultados, dos lances, dos esquemas de jogadores, dos patrocinadores, dos campeonatos estaduais, nacionais e internacionais.  Ate então, nunca tinha ouvido falar de Real Madrid, Chelsea, Milan, e agora talvez conseguisse dizer todo o elenco desses times. Claro que gostei desse seu despertar, afinal, não se pode negar os benefícios que um esporte pode proporcionar às crianças, mas confesso que não me animou nada perder o meu aliado nas votações para a escolha da programação de radio ou  TV em  dias de futebol.
E como a teoria do futebol estava afiadíssima, ele resolveu investir também na prática: decidiu que queria jogar futebol. Sempre que eu ou Samir descíamos para jogar na quadra, ele ia junto, para jogar um pouco nas preliminares. Com as outras crianças não jogava, tinha vergonha, porque dizia que não sabia jogar. Providenciei sua matrícula na escolinha de futebol, para dar um reforço em sua autoestima, e para melhorar sua técnica, e temos estimulado, sempre que podemos, sua interação com outras crianças para jogar. Não e porque e meu filho, não, mas o garoto tem talento.
Acho que por conta também da influência dos colegas, começou a ficar mais vaidoso. Antes de sair, experimenta umas três camisas, procura o sapato certo para combinar, se olha no espelho mil vezes, pergunta se a camisa esta curta, comprida, justa, folgada... Chego a perder a paciência. Eu que, por incrível que pareça, não tinha nenhum espelho de corpo inteiro em casa, providenciei colocar um em seu quarto, para que ele não precisasse ficar subindo em minha cama para conferir seu visual no espelho do meu banheiro cada vez que ia sair.
Neste intervalo também fui surpreendida com a constatação de que ele já sabe tudo sobre sexo.  Eu poderia jurar que ele não sabia nada sobre o assunto, mas quebrei a cara. E, por conta de um episódio na escola, tive que chamá-lo para uma conversa franca sobre o assunto, já que as informações que ele tinha, adquiridas com colegas da classe e do curso de inglês, estavam demasiadamente deturpadas. Esse foi um fator relevante nesse seu nono ano de vida.
No último natal, descobriu que Papai Noel não existe. Mas sobre isso, já escrevi aqui.
Continua gostando muito de ler. No último ano, devorou a coleção de Zac Power, neste ano, sua preferência foi o Diário de um Banana (engraçadinho), mas também continua lendo livros menos besteróis. Lemos juntos alguns livros de Harry Potter.
O que vê na TV: I Carly, Zoey 101 e Drake e Josh.
No aniversário de 8 anos, ganhou seu primeiro video game (Wii). Nunca estimulei video games porque achava que o estimularia a ficar menos sociável. No início, era uma febre! Até Samir se viciou no Super Mario Bros. Depois esfriou. Agora trouxe um Nintendo DS-3D dos States. Acompanhando seu interesse, o jogo preferido é de futebol. Mas existem regras rigorosas para o uso do video game em casa (durante a semana, só depois que todas as atividades da escola já estão prontas, o que, normalmente, apenas acontece lá para as 18 horas. Levar para a escola, nem pensar. No fim de semana, é livre. Mas ele nem fica muito tempo.)
Neste último ano, fizemos viagens muito legais: Fortaleza, Gramado, Rio de Janeiro e Disney, que foi seu presente de aniversário.  Ele curtiu cada viagem. Em Fortaleza, adorou o Beach Park e os passeios radicais nas dunas; em Gramado adorou andar de Ferrari e cada parque que visitamos; do Rio trouxe uma excelente impressão do Tio Marcelo, que ele intitulou de palhaço (para ele, um dos melhores elogios que se pode atribuir a uma pessoa) e pôde rever seu grande amigo João Pedro, e a Disney... sem comentários! Ele, apesar dos eventuais ataques de rabugices, sem dúvida, foi quem mais curtiu a viagem: foi em todas as montanhas russas a que teve acesso, curtiu (mesmo reclamando antes) os desfiles e espetáculos que assistimos, amou não precisar comer feijão por quase duas semanas, se empolgou com as compras...
Fortaleza

Fortaleza


Minimundo - Gramado

Gramado
Rio de Janeiro

Tio Palhaço, ops, Tio Marcelo

Com JP, no Rio

Como a viagem foi seu presente de aniversário, pela primeira vez ele não teve festa de aniversário. Fiquei com um aperto no coração por causa disso.
Epcot Center

Magic Kingdom

Animal Kingdom

Mas o dia não passou em branco.
Na véspera do seu aniversário, trouxe 10 colegas seus para passarem o dia aqui com ele. Peguei na escola, almoçaram aqui, brincaram, lancharam, desceram, conversaram (nunca ouvi tanto palavrão junto), e, no início da noite, batemos os parabéns. Comprei um bolo, uns salgadinhos, fiz uns brigadeiros de copinho, colocamos uma vela divertida no bolo e... foi isso. Ele amou! Acordou ansioso. Levantei 5:20h por causa de Leti e ele já estava no chuveiro (milagre!) tomando banho para ir para a escola, porque não conseguia dormir mais. O ruim foi que choveu muito. Tinha programado futebol, piscina, salão de jogos, mas eles acabaram muito tempo confinados no apartamento por causa da chuva. Conseguimos descer um pouco para a quadra, para "armar um baba", que era o que Lipe mais queria fazer; ficaram um bom tempo no salão de jogos, jogando ping pong, totó, "disco voador"; jogaram video game, computador; fizeram guerra de travesseiros; brincaram com brinquedos de meninos, com os de Leti, se divertiram falando bobagens... Só o fato de estarem juntos era suficiente para eles se divertirem. Os pais vieram buscá-los no início da noite e Rafa, seu melhor amigo, ficou para dormir aqui.
Hora do almoço (ainda faltava chegar um)

Salão de Jogos - 1

Salão de Jogos - 2

A melhor parte para Lipe






Os parabéns

No dia seguinte, dia do seu aniversário, encomendei umas coisinhas e recebemos em casa só a família e uns amigos próximos para bater os parabéns. No apartamento mesmo. Coisa pequena. Só para não passar em branco. Ele ficou tão feliz com o dia anterior, que nem reclamou a ausência de festa.


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