sexta-feira, 15 de maio de 2020

2 Meses

No dia 15 de março, dois dias antes da determinação oficial, entramos em distanciamento social. Por pura ingenuidade, não imaginei que teria que ficar tanto tempo em casa. 60 dias se foram e sabe-se lá quantos ainda estão por vir...

Para tentar ajustar a rotina com as crianças, que começaram a ter aula on line, pedi 20 dias de férias no início de maio (já que o trabalho estava a todo vapor), e nessas últimas duas semanas tenho tido dias mais leves para acompanhar e curtir a cria e - tentar - cuidar de mim.

Mateus, que não tinha qualquer intimidade com dispositivos eletrônicos, salvo um ou outro jogo que raramente joga no celular, se adaptou com tranquilidade à plataforma e, aos poucos, vem se soltando  para participar mais nas aulas que acontecem todas as manhãs. À tarde, tenho sentado com ele para auxiliar nas atividades e reforçar o conteúdo estudado no dia.

Leti não tem participado das aulas da sua turma, uma vez que seu conteúdo é adaptado, mas sua professora criou uma sala específica para ela, e as duas, junto com sua monitora, reúnem-se diariamente, por cerca de 30 a 40 minutos para a realização de atividades voltadas à alfabetização. Apesar de haver dias em que está menos disposta, na maioria deles ela tem conseguido produzir bem, o que nos deixa muito felizes.

Em casa, continua fazendo as atividades pedagógicas encaminhadas pela pró e monitora, e por Rafa, da Navegar Pedagógica. É engraçado que quando chamo para fazermos, ela instantaneamente responde "atividade de palavrinhas não", mas senta, faz e progride a cada dia. Linda demais!

Há duas semanas, quando entrei de férias, consegui sentar e preparar uma rotina para ela, à semelhança do que tinha feito com Teu logo no início. É bem verdade que não temos conseguido pôr em prática tudo o que programamos, mas fizemos vários avanços, o que, para mim, já valeu à pena. E é impressionante como ela entende o funcionamento da rotina. 

Estabeleci como propósito trabalhar com ela algumas habilidades: escovar os dentes, forrar sua cama, colocar a roupa na máquina para lavar e arrumar a mesa para o almoço. A escovação dos dentes, por conta do autocuidado; a forração da cama, por conta do cuidado com o seu ambiente na casa; a mesa, para ter um compromisso com as atividades de casa (e relacionado com seus interesses); e a roupa porque, na agonia com os seus lençóis (como falei no último post, link aqui), ela vira e mexe fugia para a área de serviço para abrir a máquina de lavar e retirar algum dos seus lençóis. Minha intenção foi oportunizar que manipule a máquina de maneira funcional.

Hoje de manhã, depois de tomar café, ela mesma me perguntou se íamos escovar os dentes. E já faz alguns movimentos certos, sendo auxiliada naqueles que precisa aprimorar. Como tem uma motricidade bem comprometida, cada etapa do processo é importante e comemorável: abrir a pasta, pegar a escova, apertar o tubo para colocar pasta na escova, abrir e fechar a torneira para molhar a escova e fazer a escovação em si. Para nós é um movimento tão automático, que não nos damos conta de tudo que precisamos fazer para concluí-lo. Com ela, festejo cada pequeno passo.




Em relação à cama, é mais complicado. Como só iniciamos essa atividade há duas semanas (ao contrário da escovação que já fazia, embora não com tanta regularidade), estamos indo devagar. Forro com o lençol e peço sua ajuda para colocar a colcha. Ela segura de um lado, eu do outro, e vou mostrando como encaixar pelo espaço entre colchão e a cama para ficar arrumadinho. Depois, ela arruma os travesseiros e almofadas (com propriedade!).

Das quatro coisas, o que menos gosta de fazer é colocar a roupa para lavar. Mas tem feito também. Coloca as roupas, abre a gaveta, coloca sabão, amaciante, fecha gaveta e aperta lá o botão que tem que apertar. Tirando a dificuldade de colocar o sabão e amaciante no lugar certo, todo o resto é bem tranquilo.

A mesa é a parte mais engraçada! SEMPRE resiste. Às vezes empaca e diz que não vai colocar, mas quando digo que só vamos almoçar quando a mesa estiver posta, levanta e vai. A cada prato e copo que pega, dobra o joelho, abaixa o braço, como se fosse colocar no chão, e diz "ops, quase caiu", e continua seu caminho. Todos os dias faço questão que pegue todos os itens: jogo americano, pratos, garfos, facas e copos e coloque no lugar de cada um da família. E fico impressionada como coisas simples podem ser tão difíceis para ela, como alinhar o jogo americano na mesa, colocar o prato no meio dele, os talheres um de cada lado e o copo acima. A organização espacial dela é bem complicada! Mas meu objetivo é justamente auxiliá-la com isso. Ah, e sempre aproveitamos para trabalhar matemática também, perguntando quantos somos, quantos já colocou, quantos ainda precisa... Uma atividade que eu faria em 5 minutos leva cerca de 20, mas faço questão de manter para ela incorporar isso a sua rotina e trabalhar, de maneira prática, habilidades que precisa aprimorar.

Incluí também em sua rotina dias fixos para o circuito, que tem sido sua atividade física, para culinária, e momentos diários para leitura, brincadeiras e atividade de casa. As brincadeiras nem sempre rolam conforme o planejado, mas estou satisfeita com o que temos conseguido. Sei que o tempo dela passa de uma maneira peculiar e procuro respeitar isso.

O passar destes 60 dias tem me mostrado o quanto Leti cresceu, o quanto tem se desenvolvido, o quão geniosa e decidida pode ser para conseguir o que quer, e, principalmente, que tê-la em casa todos os dias, o dia inteiro, já não é mais tão cansativo como um dia foi.
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