segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Professor que faz a diferença

Não se pode negar que, na engrenagem da inclusão, o professor exerce um papel fundamental. Não adianta a escola ter uma excelente proposta de inclusão, os pais desejarem a inclusão, a equipe de coordenação e direção pedagógica encamparem a ideia se o professor não se implicar neste projeto.
 
E ele pode ter inúmeras desculpas para se colocar à margem da inclusão! Afinal de contas, as universidades não preparam o pedagogo para lidar com a diferença e as escolas (mesmo aquelas que se dizem inclusivas) nem sempre oferecem o suporte técnico e físico para que a inclusão aconteça como a lei diz que deve ser.
 
Acrescente-se a isso o fato de que a inclusão de crianças com necessidades educacionais especiais no ensino regular pode demandar distintas e diversas formas de atuação, já que que existem inúmeras necessidades especiais diferentes, demandantes de diferentes estratégias de intervenção.
 
Para se tentar um processo de inclusão exitoso, acredito que seja preciso, acima de tudo, boa vontade e compromisso. É preciso estar movido por um desejo de participar do processo educacional da criança, e de deixar nela uma marca. É preciso humildade, para reconhecer o que não se sabe e procurar ajuda. É preciso sensibilidade para perceber o quê fazer, como fazer e quando se precisa começar tudo de novo, do zero. É preciso disponibilidade para buscar, para aprender, para pôr em prática estratégias que favoreçam o aprendizado da criança. É preciso estabelecer uma relação de cumplicidade com a família.
 
Infelizmente, pelos relatos que tenho acompanhado pela blogosfera, a realidade ainda está muito distante daquilo que se espera de um verdadeiro processo de inclusão.
 
E, vivenciando uma experiência que eu considero muito exitosa, me vejo tomada por uma grande vontade de, neste dia do professor, render as minhas homenagens àquela que tem desempenhado um papel relevantíssimo no processo de inclusão da minha filhota: minha querida Pró Wendy!
 
Me lembro do dia que a coordenadora da escola me disse que a equipe tinha decidido colocar Leti na turma de pró Wendy, por achá-la experiente e capaz de desenvolver um bom trabalho com a minha pequena.
 
Sequer a conhecia, já que ela sempre ensinara à tarde e Leti, até então, sempre estudara pela manhã. Mas me lembro da primeira impressão ao vê-la: uma mulher negra, alta, magra, linda... numa sala de aula... devia estar nas passarelas... estaria alí por vocação, ou por falta de opção? Uma visão preconceituosa, reconheço. Mas foi esta a minha primeira impressão. Sua presença provocava em mim uma reação que não conseguia explicar. Seria ela realmente a melhor opção para a minha filha?
 
Coincidentemente, um tempo depois, a descobri no facebook. Um descoberta mais que casual. Um amigo muito próximo compartilhara um texto seu sobre política (nem me recordo exatamente o que dizia) e eu, que nem sabia se realmente ela era ela (rs), comecei a fuçar sua página para tentar descobrir quem seria essa misteriosa pró Wendy. E a surpresa não poderia ter sido melhor. Suas postagens muito bem escritas mostravam ser a tal pró Wendy uma pessoa politizada, culta e muito bem resolvida. Fui reconstruindo sua imagem e me dando oportunidade para estreitar os laços com a pessoa que, talvez, depois de mim e da babá, passaria a maior parte do tempo, durante a semana, com a minha filha.
 
E tudo foi acontecendo muito espontaneamente. Sem que eu me desse conta, me vi completamente apaixonada por pró Wendy. Porque não tem como a gente não se apaixonar por quem se dispõe, verdadeiramente, a fazer algo diferenciado por nossos filhos. E é isso que ela tem feito. Desde o início do ano.
 
Sempre atenta, tem sinalizado as dificuldades que percebe, tem sugerido estratégias para favorecer sua participação em sala, tem compartilhado suas inquietudes em relação ao que pode ser feito para melhorar o processo de inclusão.
 
Foi dela a ideia de disponibilizar o planejamento semanal da turma com antecedência para mim, para que Leti, tomando conhecimento antecipadamente do que vai ser feito com a turma, potencialize sua capacidade de participação nas atividades.
 
Foi ela que me deu um puxão de orelhas, mostrando a importância de Leti chegar cedo na escola, para participar da rodinha, quando ela tem oportunidade de fomentar (de posse das informações que mando pela agenda, acompanhada de um suporte concreto) que Leti se posicione, falando sobre o que fez naquele dia ou no fim de semana.
 
Foi com ela que Leti aprendeu a subir e descer, sozinha, as escadas da escola.
 
É ela que tem estimulado uma aproximação maior entre Leti e uma coleguinha da sala, para tentar favorecer a criação de vínculos na minha pequena.
 
É com ela que, no bate papo do facebook, tiro várias dúvidas, compartilho minhas novidades e fico sabendo das novidades da escola, mesmo que já passe da meia noite...
 
É ela que tem feito tantas e tantas coisas, difíceis de enumerar aqui, para incluir minha filha no processo pedagógico, afetivo e social da sua turma.
 
E os resultados são visíveis a olho nú.
 
Embora o processo de aprendizagem de Leti anda destoe muito do restante da turma, percebo que ele encontra-se em contante evolução e, mais importante que isso, e o que me deixa mais feliz, percebo que, hoje, minha filha tem seu espaço conquistado naquele grupinho, que a acolhe, a reconhece e a respeita,  em suas diferenças e peculiaridades.
 
E devo tudo isso a minha querida pró Wendy, a quem gostaria de desejar, neste dia, o meu singelo FELIZ DIA DO PROFESSOR!
 

3 comentários:

Carolina disse...

Poxa, estou aqui com lágrimas nos olhos. E olha que nem sou a pró Wendy... Parabéns, pró, vc faz muita diferença nesse mundo!

Simone Mascarenhas disse...

Concordo muito com o que vc disse sobre o processo de inclusão e o papel do professor.
E me dá um orgulho de ver minha prima (da área de Direito) usando esses termos pedagógicos, notando falhas na formação de professores, pró-inclusão! Adoro isso! E me sinto, sempre, lendo um blog escrito por alguém da área!
O que o amor de mãe não faz, hein? Vc realmente se jogou na causa e pesquisa tudo o que pode!
Prima, mãe, promotora, fake-pedagoga maravilhosa!Que sorte de ter encontrado uma profissional tão boa para acompanhar nossa princesa!

Wendy Silva disse...

Muito se tem falado sobre o sofrimento dos professores. Eu, que ando sempre na direção oposta, e acredito que a verdade se encontra no avesso das coisas, quero falar sobre o contrário: a alegria de ser professor, pois o sofrimento de ser um professor é semelhante ao sofrimento das dores de parto: a mãe o aceita e logo dele se esquece, pela alegria de dar à luz um filho.
Como disse Nietzsche: “a felicidade mais alta é a felicidade da razão, que encontra sua expressão suprema na obra do artista. Pois que coisa mais deliciosa haverá que tornar sensível a beleza? Mas “esta felicidade suprema,” ele acrescenta, “é ultrapassada na felicidade de gerar um filho ou de educar uma pessoa.”
É isso, Jana. Fazer com amor e ser feliz por isso!!!

Não se engane, já modelei, fotografei, fiz eventos e podia muito ter aproveitado o belo rosto e tipo físico, mas até isso parte da concepção política que você cita no texto. Desde de muito cedo eu já pensava: sou mais que um rosto bonitinho, tenho muito mais a oferecer. A beleza física acaba, é efêmera, perecível.

Minha mãe certamente me inspirou nesta profissão. Ela também é educadora e cresci vendo seus exemplos de transformação social.

Enquanto estudava já tinha um olhar diferenciado sobre educação e isso só foi crescendo com a experiência nas escolas, mas, princialmente, com as crianças.

Bem verdade, não temos na faculdade a formação que contemple a "educação especial" e isso já me mobilizava nas pesquisas e nas novas possibilidades do fazer. É um processo longo e tem muito ainda a se descobrir já que cada um apresenta-se como ser único dentro das suas possibilidades. É preciso reinventar-se; acreditar e fazer parcerias. Pesquisa, estudos, relatos de experiências ajudam muito. Assumir o que não sabe e buscar novas soluções também.

Mas a gente só sabe mesmo o que é quando vive, quando acredita no diferente e no poder transformador da educação.

Estou muito feliz pela homenagem e feliz por Leti estar tendo tantos avanços e o segredo disso tudo, agora posso revelar rsrs: foi a nossa parceria familia-escola-educadora; foi permitir-se acreditar e confiar. Investir em Leti, tornar os momentos dela felizes juntos à sua turma.

Perceber seus colegas buscando seu olhar e convidando-a para a brincadeira, dando-lhe o primeiro pedaço do bolo, espontaneamente.É lindo! É lindo vê-la na turma,confiante,avançando a cada dia.

Um beijo para você e para sua família linda, W.

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