sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Simplesmente sinto

Depois de quase 8 meses de pandemia, a sensação que tenho é a de que vivi várias vidas em uma neste período. O tempo de euforia, quando - ingenuamente - pensei que tudo passaria rápido e queria aproveitar o momento de forma ultra-mega-power interessante e criativa, oferecendo a meus pequenos incontáveis formas de estimulação; o tempo de acomodação, quando percebi que a nova realidade não seria tão rápida como eu imaginava, e comecei a pensar estratégias para fazer a rotina da família funcionar melhor; tempo de negação, quando quis jogar tudo para o alto, esquecer que tinha filhos, e ficar ouvindo música, lendo livros e fazendo lettering e scrapbook o dia todo; tempo da retomada, quando percebi que precisava buscar um equilíbrio entre ocupar todo meu tempo entretendo as crianças ou fazendo coisas  o tempo todo exclusivamente para mim... 

Como era de se esperar, este também foi um tempo de viagem interna, de estreitamento de laços familiares, de redescoberta do prazer de estar em casa, de autoavaliação. Tempo de perceber as coisas que realmente importam na vida, de tentar identificar sentimentos, incômodos, de aprofundar o processo de autoconhecimento. Tempo de voltar para a terapia.

E muito dos meus ciclos, sem dúvida, sofreram influência direta do estado de Leti ao longo desse período. Um período difícil para adultos típicos, imagina para crianças autistas...

Ela, que questionou muito a impossibilidade de sair no começo do isolamento, rapidamente compreendeu as novas restrições impostas pela pandemia e pareceu se adaptar bem à nova rotina. Até a primeira recaída, perto do seu aniversário, em junho. De lá pra cá, temos vivido ciclos, que têm sido bem mais demorados nas crise que nos momentos de tranquilidade.

Por conta dela, passamos a flexibilizar mais o contato social, ao perceber o quanto lhe fazia bem estar com pessoas queridas que ela não via há tempos. Também principalmente por ela fomos, pela primeira vez (e depois mais duas), passar um fim de semana na praia, para tentar dar um tom de normalidade a nossa vida, nestes tempos nada normais. Percebendo seus sinais, começamos a promover um resgate de suas atividades rotineiras: ela aprendeu a usar a máscara, passamos a fazer caminhadas ao ar livre, ela voltou para as atividades terapêuticas. Por conta dos momentos difíceis, precisamos recorrer ao suporte da sua homeopata e da sua psiquiatra e agora estamos iniciando um caminho pela aromaterapia.

Intensificar esses altos e baixos com ela acabou por me fazer mergulhar num processo de reflexão sobre a nossa família, principalmente depois de ter lido um livro que ficou ecoando em minha cabeça (e no meu corpo todo) por semanas: Me Sinto Só, de Karl Taro Greenfeld.

No livro, Karl, aos 40 anos, resgata sua história e a narra, desde a tenra infância, como se revivesse cada momento, mostrando como cada ação de sua família foi condicionada pelo autismo de seu irmão, um ano mais novo, nascido no final da década de 60.

Apesar de Noah ser um autista severo e não verbal, vivendo numa época em que pouco se sabia sobre o autismo, a semelhança de algumas características dele com Leti fez com o livro me tocasse ainda mais.

Mas o que mais mexeu comigo foram algumas constatações de Karl sobre as implicações daquele modelo familiar em sua vida e na dos seus pais. 

Ler coisas que não nos damos ao luxo sequer de pensar, por parecer violentar a lei natural da parentalidade afetiva, mas que vivem encrsutadas num subconsciente que não ousamos acessar, foi como me sentir, repetidamente, atingida por desnorteadores socos no estômago.

Karl fala do lugar de um irmão, inicialmente criança, que nutria a expectativa de viver uma relação fraternal em plenitude. Ele percebe a diferença da dinâmica familiar dos conhecidos do seu entorno em relação à sua e, por muitas vezes, desprovido de máscaras, demonstra uma revolta por se ver tolhido de sonhos aparentemente simples que considera legítimos, ou por perceber a obrigação de normalizar situações absolutamente anormais.

"Ter Noah como irmão, viver a complexa dinâmica da minha família, me faz ficar admirado com a facilidade dos relacionamentos familiares e das amizades quando as crianças envolvidas são saudáveis."

"Ele é um matador de sonhos, reduzindo a ideia de nossa família sobre uma vida melhor a um estado banal de normalidade."

Por causa dele, nossa casa é uma eterna bagunça, nossa mobília está sempre suja, o veludo do sofá é duro de saliva seca. Ele é a razão pela qual nossos lençóis têm os cantos desfiados, onde ele os mastigou, os livros não têm todas as páginas, porque ele as arrancou... e nossas janelas estão sempre embaçadas com o resíduo do seu cuspe"

Apesar das considerações representarem o olhar de uma criança, e num contexto completamente distinto do atual (naquela época, a grande maioria das famílias acabava por institucionalizar seus filhos quando não conseguia mais controlá-los, e o controle, quando possível, era feito de maneira altamente questionável), perceber que nos enxergo nesses trechos e em tantos outros do livro - em alguns com mais, em outros com menos intensidade - e que nunca, antes, me permiti aceitar que pensamentos como estes viessem à tona, para não comprometer a imagem de mãe perfeita que quero criar para mim mesma, me fez parar para olhar para isso. Olhar. Sentir. Refletir.

Desde que terminei a leitura tenho pensado muito em como esse nosso modelo familiar, que não sentiu 10% das dificuldades vividas pela família de Noah na década de 70, seja pela forma de abordar o autismo, seja pelo nível de severidade do autismo dele, tem sido moldado por conta da condição de Leti.

A comida sempre em lugares inacessíveis por conta da sua compulsão, os quartos todos trancados para ela não bagunçar toda a roupa para passar cuspe (porque nessa quarentena, por um período, ela ampliou a obsessão pelos lençóis e passou a procurar nossas roupas), o cheiro de xixi pelo ar - do colchão que seca na varanda ou do descuido no sofá-, os lençóis espalhados pela casa, os baques surdos e repentinos das pancadas que ela dá com a cabeça na parede ou no blindex do banheiro, a complexidade que gira em torno de coisas aparentemente simples, como um passeio ao parque ou uma pequena viagem. O estado constante de alerta.

E embora eu já tivesse muitas vezes ponderado sobre a forma como a diversidade da nossa família amplia nosso olhar, favorece nossa empatia, nos aproxima de pessoas especiais e melhor nos capacita a lidar com o diferente - e este aspecto positivo é inegável! - percebo agora que não posso ter o pudor de deixar de enxergar também o outro lado da moeda, e ver como tais características podem gerar tensão, medo, revolta, sentimentos estes inerentes ao ser humano.

Ontem, quando fazia minha leitura noturna na sala, sentindo o cheiro do xixi, escapado do cochilo vespertino de Leti no sofá, e via os inúmeros lençóis (100% poliéster, que ela usa para passar cuspe, dizendo que tá desenhando) espalhados pelo chão, mais uma vez pensava em como tudo isso tem impactado em nós. Em como às vezes o que desejo é só um pouco de normalidade; poder circular pela casa sem me preocupar se Mateus esqueceu alguma guloseima em lugar visível, ouvir um barulho e não associá-lo imediatamente a alguma autoagressão ou a algum rompante de Leti (que já quebrou 3 tablets nesta quarentena), poder sair para caminhar na pracinha com leveza, sem ter que convencê-la a ir, grudada a meu corpo, com medo sabe-se-lá de quê, ter uma tarde livre em casa enquanto os filhos saem para fazer algo com seus amigos...

E eis que hoje, Binha (minha irmã), chega em casa, diz a Leti que lhe comprou um lençol, e minha filhota, do nada, resolve que vai a casa da tia, com ela, buscar seu presente. Combina como vai e como volta, pega sua máscara, seu sapato, seu tablet, me dá TCHAU e vai. Sem mim e sem Samir, como costuma ir quando precisa ficar na casa da avó paterna para fazermos algo. E ficou lá por toda a tarde, numa boa. Vê-la ir por iniciativa própria, sentir sua alegria, seu interesse, sua segurança naquele ambiente e naquela companhia me encheu de felicidade. Sentir o compartilhamento desta felicidade com minha irmã e meu cunhado, nos quais minha pequena encontrou o acolhimento capaz de fazê-la vencer seus medos, trouxe mais leveza a meu dia e me aproximou da sensação de normalidade que tantas vezes eu busco.



E, curiosamente, foi esse pequeno-grande deleite que me fez, finalmente hoje, tentar traduzir em palavras os efeitos em mim da leitura concluída há quase dois meses.

Embora o fato em si pareça destoar completamente do que ficou mais forte da leitura, serviu de gatilho para me fazer, mais uma vez, buscar investigar, tentando não moralizar, sentimentos escondidos nas memórias do meu subsolo. Mas, por ora, minha ideia é simplesmente sentir, sem tentar racionalizar, e com o coração aberto para acolher TUDO o que há de humano em mim, seja o que for, certa de que não será isso - unicamente - que caracterizará a minha maternidade.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

2 Meses

No dia 15 de março, dois dias antes da determinação oficial, entramos em distanciamento social. Por pura ingenuidade, não imaginei que teria que ficar tanto tempo em casa. 60 dias se foram e sabe-se lá quantos ainda estão por vir...

Para tentar ajustar a rotina com as crianças, que começaram a ter aula on line, pedi 20 dias de férias no início de maio (já que o trabalho estava a todo vapor), e nessas últimas duas semanas tenho tido dias mais leves para acompanhar e curtir a cria e - tentar - cuidar de mim.

Mateus, que não tinha qualquer intimidade com dispositivos eletrônicos, salvo um ou outro jogo que raramente joga no celular, se adaptou com tranquilidade à plataforma e, aos poucos, vem se soltando  para participar mais nas aulas que acontecem todas as manhãs. À tarde, tenho sentado com ele para auxiliar nas atividades e reforçar o conteúdo estudado no dia.

Leti não tem participado das aulas da sua turma, uma vez que seu conteúdo é adaptado, mas sua professora criou uma sala específica para ela, e as duas, junto com sua monitora, reúnem-se diariamente, por cerca de 30 a 40 minutos para a realização de atividades voltadas à alfabetização. Apesar de haver dias em que está menos disposta, na maioria deles ela tem conseguido produzir bem, o que nos deixa muito felizes.

Em casa, continua fazendo as atividades pedagógicas encaminhadas pela pró e monitora, e por Rafa, da Navegar Pedagógica. É engraçado que quando chamo para fazermos, ela instantaneamente responde "atividade de palavrinhas não", mas senta, faz e progride a cada dia. Linda demais!

Há duas semanas, quando entrei de férias, consegui sentar e preparar uma rotina para ela, à semelhança do que tinha feito com Teu logo no início. É bem verdade que não temos conseguido pôr em prática tudo o que programamos, mas fizemos vários avanços, o que, para mim, já valeu à pena. E é impressionante como ela entende o funcionamento da rotina. 

Estabeleci como propósito trabalhar com ela algumas habilidades: escovar os dentes, forrar sua cama, colocar a roupa na máquina para lavar e arrumar a mesa para o almoço. A escovação dos dentes, por conta do autocuidado; a forração da cama, por conta do cuidado com o seu ambiente na casa; a mesa, para ter um compromisso com as atividades de casa (e relacionado com seus interesses); e a roupa porque, na agonia com os seus lençóis (como falei no último post, link aqui), ela vira e mexe fugia para a área de serviço para abrir a máquina de lavar e retirar algum dos seus lençóis. Minha intenção foi oportunizar que manipule a máquina de maneira funcional.

Hoje de manhã, depois de tomar café, ela mesma me perguntou se íamos escovar os dentes. E já faz alguns movimentos certos, sendo auxiliada naqueles que precisa aprimorar. Como tem uma motricidade bem comprometida, cada etapa do processo é importante e comemorável: abrir a pasta, pegar a escova, apertar o tubo para colocar pasta na escova, abrir e fechar a torneira para molhar a escova e fazer a escovação em si. Para nós é um movimento tão automático, que não nos damos conta de tudo que precisamos fazer para concluí-lo. Com ela, festejo cada pequeno passo.




Em relação à cama, é mais complicado. Como só iniciamos essa atividade há duas semanas (ao contrário da escovação que já fazia, embora não com tanta regularidade), estamos indo devagar. Forro com o lençol e peço sua ajuda para colocar a colcha. Ela segura de um lado, eu do outro, e vou mostrando como encaixar pelo espaço entre colchão e a cama para ficar arrumadinho. Depois, ela arruma os travesseiros e almofadas (com propriedade!).

Das quatro coisas, o que menos gosta de fazer é colocar a roupa para lavar. Mas tem feito também. Coloca as roupas, abre a gaveta, coloca sabão, amaciante, fecha gaveta e aperta lá o botão que tem que apertar. Tirando a dificuldade de colocar o sabão e amaciante no lugar certo, todo o resto é bem tranquilo.

A mesa é a parte mais engraçada! SEMPRE resiste. Às vezes empaca e diz que não vai colocar, mas quando digo que só vamos almoçar quando a mesa estiver posta, levanta e vai. A cada prato e copo que pega, dobra o joelho, abaixa o braço, como se fosse colocar no chão, e diz "ops, quase caiu", e continua seu caminho. Todos os dias faço questão que pegue todos os itens: jogo americano, pratos, garfos, facas e copos e coloque no lugar de cada um da família. E fico impressionada como coisas simples podem ser tão difíceis para ela, como alinhar o jogo americano na mesa, colocar o prato no meio dele, os talheres um de cada lado e o copo acima. A organização espacial dela é bem complicada! Mas meu objetivo é justamente auxiliá-la com isso. Ah, e sempre aproveitamos para trabalhar matemática também, perguntando quantos somos, quantos já colocou, quantos ainda precisa... Uma atividade que eu faria em 5 minutos leva cerca de 20, mas faço questão de manter para ela incorporar isso a sua rotina e trabalhar, de maneira prática, habilidades que precisa aprimorar.

Incluí também em sua rotina dias fixos para o circuito, que tem sido sua atividade física, para culinária, e momentos diários para leitura, brincadeiras e atividade de casa. As brincadeiras nem sempre rolam conforme o planejado, mas estou satisfeita com o que temos conseguido. Sei que o tempo dela passa de uma maneira peculiar e procuro respeitar isso.

O passar destes 60 dias tem me mostrado o quanto Leti cresceu, o quanto tem se desenvolvido, o quão geniosa e decidida pode ser para conseguir o que quer, e, principalmente, que tê-la em casa todos os dias, o dia inteiro, já não é mais tão cansativo como um dia foi.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

E lá se vai um mês...

Será o primeiro de alguns? Não sei. Quem sabe? Aqui continuamos sobrevivendo. Respeitando as orientações quanto ao distanciamento e quanto aos cuidados nos momentos das inevitáveis saídas. A saudade dos queridos aumenta e seguimos tentando extrair aprendizado de toda essa crise.

Por um tempo, conseguimos manter uma clausura quase absoluta, mas minha total antipatia a lives e youtube não me ajudaram no que diz respeito ao cuidado com a saúde física, o que acabou me fazendo optar por corridas ao ar livre (com máscara) três vezes por semana para (tentar) manter o peso e a sanidade mental.

Consegui incorporar um novo hábito e incrementar outro. Tenho escutado CD´s que já estavam esquecidos nos maleiros, preteridos pelo spotify. E lido mais. Já foram 4 livros inteiros (um deles pequenininho) e dois em andamento. Eu tinha esquecido o prazer proporcionado pela música. Ultimamente, só escutava no carro e uma mesma playlist que já sabia de cor. Escolher um CD e deitar no sofá para ouvi-lo (ou levantar para dançar rs) tem me trazido muita tranquilidade.

Sinto os dias ficaram mais leves...

Em relação às crianças, as coisas estão sob controle. Na medida do possível. 

Com Teu e Lipe, continua tudo muito parecido com o que escrevi no último post. Com Leti, algo mudou. Para melhor! Muito melhor.

 


Como havia relatado, Leti foi quem mais sentiu a mudança em sua rotina, e andava ansiosa e agitada, machucando-se com certa frequência. Eu estava simplesmente acolhendo-a e dando-lhe um tempo. Mas parece que ela assimilou melhor a mudança, assenhorou-se de sua nova rotina e, com isso, tem estado mais tranquila, tem se machucado menos e apresentado mais disposição para as atividades pedagógicas.

E este post vai ser para tratar especialmente deste aspecto.

Logo depois que escrevi o último post, recebi de uma prima emprestada e psicopedagoga que tem nos ajudado com Leti, umas atividades para fazer em casa.

Quando senti que ela estava melhorzinha, resolvi convidá-la para fazer uma. Qual não foi a minha surpresa quando percebi que ela estava conseguindo ler umas palavras com sílabas simples com o meu auxílio!!!! Não consigo nem descrever, quase enfartei!

Eu já percebia que a consciência fonológica dela estava bem apurada, a ponto de ela identificar a ssílabas quando eu apresentava uma consoante e uma vogal e perguntava que sílaba formava. Esse, para mim, tinha sido o grande ganho do ano passado, que apontava para belos próximos capítulos.

Mas quando eu tentava trabalhar leitura com ela, percebia que ela não conservava a sílaba que identificava para juntar a outra e formar uma palavra. Exemplo: BALA. Ela dizia B com A, BA. L com A, LA. Mas não guardava o BA e LA para formar BALA. Sempre que eu perguntava pela sílaba, tinha que dizer de novo B com A... e se perdia neste círculo.

Desta vez ela parecia bem apropriada da conservação das sílabas. (Soube depois que já estava fazendo isso na escola e na Ciranda/Navegar).

Empolgadíssima como estava, falei com Marina (sua monitora), com Luci (sua pró), com Rafa (da Ciranda/Navegar) e com Daniele (a prima-psicopedagoga) sobre o desempenho da minha pequena e sondei se poderíamos montar uma força tarefa para fazermos algo afinado com todas as profissionais para trabalharmos mais este aspecto nesses dias de "isolamento".

Como eu já esperava, a receptividade foi linda e imediata e, dias depois, todas já se reuniram virtualmente para pensar num plano de trabalho para minha pequena e se comprometeram a irem enviando atividades para eu ir fazendo com minha tchuquinha.

Em paralelo, e aqui preciso abrir um parêntese, resolvi adotar uma estratégia com ela para tentar conter uma ansiedade que começava a me preocupar.

Como já disse aqui, Leti tem uma mania nada funcional (nem higiênica) de brincar desenhando com saliva em lençóis de poliéster (nos de algodão a saliva não "desenha" o tecido). A brincadeira em si já é meio nojentinha, mas como é o que a acalma e diverte, não impedimos e até nos acostumamos.

O problema é que, ultimamente, ela andava tão ansiosa que mal escolhia um lençol para "brincar", e já queria outro e depois outro e outro. Resultado: o quarto ficava amontoado de lençol espalhado por todos os cantos, quando a bagunça não invadia outros cômodos da casa, e a ansiedade dela ficava cada vez mais visível, na dificuldade de concentração daquela atividade, para ela, lúdica.

Conversei com ela, e expliquei que aquilo não poderia continuar daquela forma. Combinei que ela teria direito a dois lençóis e que, toda vez que fizesse uma atividade - pedagógica, artística ou física - teria o direito de trocá-lo.

Como poucas coisas a motivam, sempre tive dificuldade em envolvê-la para fazer atividade, já que, sem uma compensação, o esforço dela para estas atividades é simplesmente ZERO. A moeda de troca quando tinha atividade para fazer em casa acabava sendo a comida (ou condicionar a próxima refeição à realização da atividade ou premiá-la com alguma guloseima). Mas isso nunca me agradou!

Apesar de ter mudado a postura em relação aos lençóis para tentar conter a ansiedade e a bagunça, não imaginei que os resultados pudessem ser tão bons.

No afã de conseguir um lençol desejado, e depois de pedir, implorar e bajular sem sucesso, ela, VÁRIAS vezes, acaba pedindo para fazer uma atividade, para poder ganhar seu lençol. A iniciativa é dela! E senta, se concentra, se empenha e faz! Lindo!

Bem verdade que, até chegarmos ao formato atual, passamos por alguns percalços.

Resolvi guardar os lençóis no maleiro do quarto dela. Ela, que tem uma insegurança gravitacional absurda, e detesta subir em cadeiras, escadas e afins, simplesmente, puxava a cadeirinha do quarto, subia e puxava tudo! Ah, e ainda saía correndo para me contar. Porque ela é dessas. Não adianta aprontar. Tem que contar que fez.

Resolvi guardar no maleiro do meu quarto que é mais alto. O que ela fez? Puxou minha cadeira (mais alta), subiu, ficou na ponta do pé e, quando viu que não ia conseguir, abriu a gaveta e já ia subir para ficar mais alta. Fico imaginando o estrago se não tivéssemos visto a tempo.

Mudei então. Peguei uma mala grande (com cadeado), guardei os lençóis dentro e a mala fica no chão. Para evitar acidentes. Ela passeia pela casa o dia inteiro empurrando a mala. Muito engraçado! Ela sabe ser bem engraçada quando quer. Mas só abrimos quando ela faz a parte dela.

E tem funcionado. Ela faz o circuito, faz atividades de arte, atividades pedagógicas com bastante empenho, coisa que dificilmente aconteceria sem uma motivação.

E o desempenho nas atividades pedagógicas melhora a cada dia!!!

Estou tão, tão feliz com esse progresso. Extraindo pérolas de todo o caos que estamos vivendo e esperando que joias ainda mais preciosas brotem deste lindo processo.










segunda-feira, 23 de março de 2020

10 Dias de Distanciamento Social

Sim, eu aprendi a diferença entre isolamento, quarentena e distanciamento social. Aprendi também que um problema que acontece do outro lado do mundo logo pode atingir a minha vida e a minha rotina. Aprendi que nossas bolhas não nos protegem de nada e que algumas vezes é preciso pensar primeiro no outro para garantir a nossa proteção. Aprendi que ter informação é bom, mas o excesso dela às vezes pode nos levar ao desequilíbrio. Aprendi a valorizar mais pessoas muitas vezes tão invisibilizadas. Percebi a importância de fazer a escolha certa do nosso parceiro de vida. Aprendi a exercitar mais a gratidão. Tive oportunidade voltar a enxergar beleza em pequenas coisas para as quais o ritmo acelerado da vida parecia estar me cegando...

Há dez dias, quando optamos, pela flexibilidade de nosso trabalho, que nos autoriza o home office,  por fazer o distanciamento social, não imaginávamos o que nos aguardava.

Apesar de já trabalharmos parcialmente em home office, passar a trabalhar desta forma em tempo integral e com a casa cheia é completamente diferente! 

Temos tentado - diariamente - aprender uma forma para conciliar todas as demandas da família,  de maneira que nos permita conservar a harmonia, o respeito e o equilíbrio.

E tem sido na base da tentativa e erro, já que cada membro da nossa família tem reagido diferente ao momento que estamos vivendo.

Com Mateus, montamos (junto com ele), desde o segundo dia, um quadro de rotina com coisas a fazer durante cada dia da semana, incluindo tempo para brincar, estudar, ler, cuidar do seu espaço e do seu corpo... Tem funcionado super bem, principalmente porque o usamos como direcionamento, e não como algo rígido ou inflexível.

Com Leti, na primeira semana, optamos por deixá-la mais à vontade e ir decidindo o que fazer dia a dia, de acordo com seu humor e comportamento. E embora, dos filhos, ela seja a que menos gosta de sair, tem sido a que mais sente falta da sua rotina de escola e terapias. Quase todos os dias, lembra de seus compromissos e depois completa: "mas tá fechado por causa do corona vírus", com uma expressão triste. Ela anda mais ansiosa, mais agitada e se machucado vez por outra. Temos conversado muito com ela, tentando explicar o momento, estar mais juntos e fazer coisas que sejam prazerosas.

Lipe está entediadíssimo! Passa a maior parte do tempo nas redes sociais e conversando com amigos, mas sempre reserva um tempinho para estar conosco, conversando sobre a crise, jogando jogos de tabuleiro, compartilhando as horas das refeições. Mas sempre repete que não vê a hora de colocar a cara na rua. É adolescente! Perfeitamente compreensível.

Entre mim e Samir as coisas fluem de maneira leve. Temos usado as 24 horas que compartilhamos para trabalhar lado a lado, nos dividir (ou nos juntar) na atenção com as crianças, conversar mais, nos curtir mais. Tem sido bom.

E se precisamos extrair do limão a limonada, temos tentado tornar estes momentos leves e felizes para todos. Sem exigências, sem peso, sem cobrança. Minha ideia é planejar e fazer quando der,  e, quando não der, que fiquemos ao Deus dará, nos entregando ao ócio, e esperando o que a experiência nos proporcionará.

Tenho recebido diversas sugestões de coisas para fazer com crianças, olhado, usado o que me interessa, mas com a consciência de que nos dias de cansaço excessivo, de trabalho além da conta, de vontade de estar só comigo ou de curtir meu marido, tudo poderá ser deixado de lado, com as crianças ocupadas por horas a fio na TV. E não é isso que as estragará.

Mas enquanto temos disposição e criatividade, seguimos entretendo os pequenos como podemos.

Aqui, alguns de nossos momentos, nestes primeiros 10 dias:

Atividades ao ar livre quando ainda era possível

 


Crianças na Cozinha:

  


Brincando com brinquedos pouco explorados:


 



Fazendo Arte:


 
  




Piquenique com leitura em casa:



Cinema e Teatro em casa:


Ajuda nos afazeres domésticos:

 


 Caça ao tesouro (com leitura de palavrinhas para Leti):

 


Hora da Leitura:

 




Brinquedos construídos e brincadeiras:


 
Fazendo um livro
 
 






 


Hora de estudo:

 



domingo, 15 de março de 2020

Lidando com as dificuldades: paciência e persistência



O início do ano tem sido sempre difícil para Leti. Ela fica mais ansiosa, menos aberta às atividades, indisposta a passeios. E, invariavelmente, pega uma gripezinha, que acaba por deixá-la ainda mais desanimada. Se pudesse, ficava o dia inteiro em casa, assistindo a vídeos do youtube no tablet e "brincando" de desenhar com a saliva em sua coleção de lençóis 100% poliéster.

O início do ano para Mateus (nos últimos três, pelo menos) tem sido de readaptação à rotina escolar. Época de relembrar conteúdos já vistos, de tentar estabelecer um horário de estudo, de se deparar com as dificuldades e procurar estratégias para superá-las. E, a partir do ano passado, de tentar lidar com os sintomas da psoríase, exacerbados por conta do stress decorrente de todo este processo.

No ano passado, depois de muito caminhar para tratar os sinais da psoríase espalhados pelo corpo dele (e foi uma longa e cansativa caminhada!), acolhendo a sugestão da psicóloga de Leti, experimentamos contratar uma professora particular para acompanhá-lo, diariamente, nos estudos e nas atividades de casa, para que eu pudesse me desvencilhar do clima de cobrança a que ele mesmo se impunha, buscando me comprovar suas competências.

O resultado foi quase imediato! Sem mudar a medicação que ele estava usando (e depois de tentar, sem êxito, tratamento local e fototerapia), todas as descamações da pele simplesmente desapareceram! 

Mas, por outro lado, eu - talvez por conveniência ou cansaço - acabei me alheando ao processo escolar do meu filhote. 

Como um ano novo demanda novas ações e novos planos, estabeleci como prioridade deste ano de 2020 ajudar - pessoalmente - meus filhos em suas dificuldades escolares.

E tem sido assim desde o início do ano letivo. Muito mais com Mateus que com Leti, é verdade, já que o ritmo dela ainda não deslanchou. E dentro deste processo, uma observação hoje me deixou bem reflexiva e motivou a escrita deste post: a postura de Mateus diante de suas dificuldades.

A grande dificuldade dele, que acaba impactando em todas as disciplinas, é, sem dúvida, a interpretação de texto. E a consciência da dificuldade faz com que ele crie estratégias - altamente questionáveis - para dar solução aos 'problemas' que precisa resolver, tentando burlar sua dificuldade. Ele mal lê os textos que precisa interpretar, buscando entendê-lo através de outros elementos disponíveis na atividade, responde questões com evasivas e insiste veementemente para que eu não olhe sua atividade de casa, alegando que vai corrigi-la em classe. E o que é pior, e acendeu o meu alerta para a necessidade de uma intervenção: ele vem se opondo à leitura dos livros da nossa biblioteca.

Meu foco com ele, então, tem sido a interpretação. E não só nas atividades de língua portuguesa, mas em todas, inclusive matemática, na qual ele conta com a grande vantagem de possuir um excelente raciocínio  lógico!

Temos procurado estabelecer uma rotina e alguns combinados para que ele se aproprie de suas responsabilidades e, aos poucos, consiga exercitar plenamente sua autonomia frente aos compromissos escolares.

Não posso dizer que tudo são flores. Longe disso. Só de ver um texto a interpretar, principalmente se for longo, ele resmunga, vocifera, pragueja, busca culpados por sua vida tão cruel... um verdadeiro drama!

Mas, mesmo com sua postura reativa, consigo ver avanços; uma leitura um pouco mais fluida, menos medo de arriscar suas impressões sobre o texto...

Mas é tudo muito lento! Procuro validar seus avanços, para ele se motivar e reforçar sua autoestima, mostro que todo mundo tem dificuldade (cada um em uma área) para ele perceber que isso é natural, e deixo claras as regras (com suas razões e consequências) para ele tentar compreender a importância de se implicar neste processo.

Antes de sentar com ele, visto a roupa da paciência, coloco a capa da persistência, e me preparo para o combate!

Mas alguns dias são especialmente mais difíceis! Ele protela o horário de fazer a atividade, sempre sob o pretexto de fazer alguma outra coisa (e briga como gente grande quando quer ver TV e digo que não pode porque a atividade não está pronta), senta para fazê-la apenas quando eu o convoco, porque já não dá mais para esperar e, quando percebo os erros (na maioria das vezes decorrentes da má interpretação da pergunta), ele grita, chora, mexe os braços e se vitimiza, dizendo que EU não quero dar a resposta, EU não quero que ele veja TV, EU quero estragar o dia dele, EU blábláblá...

Procuro não alterar o tom de voz e repetir o discurso quantas vezes sejam necessárias, explicando que estou a seu lado para ajudá-lo, que dar a resposta a ele não o ajuda porque não poderei estar com ele o tempo todo para responder por ele, que o conteúdo de hoje é a base do de amanhã e tudo isso que a gente já sabe, mas confesso que às vezes me canso.

E nestes momentos, para não brigar e gritar, digo francamente a ele que sua postura está me deixando extremamente irritada e impaciente e que, para não brigar e gritar, preciso me afastar um pouco para eu - e ele - esfriarmos a cabeça. E saio da mesa, vou para meu quarto, pedindo a ele que, quando se sentir pronto para continuar, me chame.

Não sei se está certo. mas como não encontrei um manual que caia como uma luva a nossa relação, é o que meu coração tem me mandado fazer. E sigo fazendo até pensar em algo diferente.

Com Leti é diferente. Ela não grita, não briga, não pragueja. Mas, diante das dificuldades, quando se encontra nestas má fases, parte para a autoagressão. Já passou por vários estágios: bater a testa na parede, morder o braço, machucar a língua.

Isso me tirava do eixo! Me deixava transtornada com a sensação de impotência, e me fazia apelar para várias reações diferentes: conversar, brigar, ameaçar, até chorar na frente dela (depois de chorar escondido incontáveis vezes).

Ultimamente, tem mordido a língua. Minha postura diante dessa atitude dela vinha sendo sinalizar que precisaria tratar com própolis (que ela detesta!), como orientado por sua médica. Era uma ameaça camuflada por uma boa justificativa, já que ela se debatia como podia para não deixar usar o própolis.

Mas mudei.

Tenho dito a ela que ela está uma mocinha, que mostra ter capacidade de dizer o que sente (esta noite, inclusive, acordou de madrugada pedindo novalgina porque não estava se sentindo bem e, quando acordou, disse que tinha acordado feliz porque se sentia melhor) e que não tem porque se machucar se algo a está incomodando. Percebo que ela usa a autoagressão como forma de comunicação mas também como uma espécie de chantagem, porque ela não morde a língua e fica na dela, remoendo o incômodo que a motivou. Depois de morder, imediatamente nos procura para mostrar o que fez. 

Quando faz isso, repito o que sempre digo, que ela pode conversar a respeito do que a está incomodando sem se machucar, mas que, infelizmente, se ela optar por isso, não poderei fazer nada, já que não tenho como controlar a língua que está dentro da sua boca. Tento demonstrar serenidade, diferente do descontrole que sempre me invadiu diante dessas situações, reforçando que não quero mais me angustiar com isso. (claro que esta opção só se faz possível porque o resultado da autoagressão não é nada que comprometa sua saúde ou integridade)

Novamente não sei se está certo. Mas é o que tenho tentado dentro desta minha árdua tarefa de exercitar a tentativa e erro com meus pequenos.

O fato é que perceber a reação de meus filhos diante de suas dificuldades desencadeia em mim a minha reação diante das minhas dificuldades. E, invariavelmente, junto com a atitude, que busca ser racional, vem um monte de sentimento que me faz questionar minha maternagem, minhas responsabilidades e as boas e velhas culpas, que se escondem no inconsciente, buscando sempre uma oportunidade para vir à tona.

Seja como for, sigo tentando usar o uniforme da paciência e persistência diante dessas situações. Se o resultado será positivo, só o tempo dirá.

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Depois do Foram Felizes para Sempre

O que acontece "Depois do Foram Felizes Para Sempre" do contos tradicionais?

Das opções de Ilan Brenman, a opção que mais gostei foi a da Pequena Sereia. Mas Leti ainda acrescentou duas histórias não incluídas no livro:

Para ela, Cachinhos Dourados desistiu de caminhar pela floresta e resolveu malhar só na academia (é que para ela caminhada é sinônimo de malhação), depois de fugir da casa dos 3 ursos; e Dona Baratinha, depois da morte do D. Ratão, resolveu se casar com Teteu (kkkk), que, aliás, não gostou  nada dessa história de ter que se casar com uma barata...


Filha criativa: temos por aqui!!!!

domingo, 8 de dezembro de 2019

Caindo na Real


E o ano letivo acabou!

Passei o ano inteiro com o coração apertado, com medo da mudança, pelo fato de os colegas com quem Leti possui um forte vínculo saírem para outras escolas em 2020 e ela, por opção da família, ficar retida por mais um ano, para que possamos promover a transição com mais tranquilidade, já que não achamos recomendável ela seguir para qualquer das escolas que receberão seus amigos.

Mas até a última sexta, quando haveria a baladinha de despedida da turma, eu não tinha vertido uma lágrima por este motivo, o que, confesso, causou-me estranhamento.

Então cheguei em casa com ela, já depois das 21h, e, depois de promover os cuidados noturnos dela e de Teu, parei para olhar o material que tinha trazido da escola: umas fotos, um portfólio de geografia, um livro de autobiografia e uma cartinha.

Intuitivamente, ou talvez conduzida pelo cosmos, comecei a manusear o material partindo dos menos para os mais emocionantes, culminando com a cartinha escrita por Sophia, sua colega da Arco desde o primeiro ano e que, juntamente com Júlia, seguidas por tantas outras, sempre esteve a seu lado, demonstrando amor, carinho, respeito e cuidado por minha pequena.


Naquele momento caí na real! Naquele momento senti medo! Naquele momento me senti impotente!

A carta é concluída com uma frase simples mas que diz tanto: "você é linda do jeitinho que é"... 

E foi isso que minha filha teve ao longo dos cinco anos de escola: respeito e amor pelo que é. Não foi alvo de expectativas e tentativas de mudança, mas de ajuda para progredir dentro de suas capacidades; não foi excluída nos momentos difíceis, em que ficava mais agressiva e machucava seus colegas, foi acolhida e orientada a não agir daquele jeito; não foi ridicularizada por atitudes diferentes e estereotipias, foi até imitada em certo momento, para poder participar de uma atividade em grupo; não foi esquecida ante a iminência de eventos que imaginávamos não dar conta de participar, foi estimulada com carinho a tentar (como no Carroção e na balada de despedida).

E toda a postura respeitosa e amorosa de seus colegas e dos profissionais da escola, com certeza, ajudou a construir a Letícia forte e empoderada que ela é hoje; que deu conta de viajar com colegas e de se divertir numa balada barulhenta, que demonstra suas vontades com argumentos e sabe negociar como ninguém, que extrai risos de seus amigos com suas tiradas engraçadas, que surpreende com sua agilidade quando interesses gastronômicos estão em jogo...

Ela, que teve um ano complicado, com períodos bastante difíceis, conseguiu, com a ajuda dos colegas, e o trabalho impecável de Pró Luci e de Marina, evoluir tanto no processo de alfabetização, terminando o ano identificando sílabas de uma maneira tão linda, que me emociona.

Apesar de saber que poderei continuar contando com o suporte pedagógico da escola, para dar continuidade ao trabalho exitoso desenvolvido neste ano, ainda tenho um certo temor pela turminha que está por vir. 

Embora venha preparando Leti para a mudança há bastante tempo, não conheço seu nível de compreensão sobre a situação e seu envolvimento emocional com a turma e isso, sem dúvida, está me preocupando um bocadinho.

Me preocupa não encontrar o acolhimento e o respeito do tamanho que sempre teve, e na medida que merece, me preocupa não encontrar o amor que alimenta, que movimenta e que motiva a ir além, me preocupa não conseguir compreender seus sentimentos diante dos novos e desafios e não estar suficientemente apta a ajudá-la. Sei que teremos o suporte da escola, imagino que a linha seguida pela escola favoreça o olhar mais inclusivo, mas, ainda assim, me vejo tomada pelo medo. Como fico sempre diante de grande mudanças.

Por ora, procurarei não sofrer por antecedência e fortalecer minha pequena para o que estar por vir, deixando claro que os vínculos que foram construídos até aqui serão preservados para sempre. Pelo menos, assim espero.









A special friendship

Nas vésperas da viagem para o Carroção, uma coleguinha de Leti levou um livrinho que tinha produzido no curso de inglês para lhe presentear. Naquele momento, o livro ficou com sua monitora que, depois da leitura, ficou de repassar-nos a obra.

Passados alguns dias, depois de alguns desencontros, o livro chegou a nossas mãos, depois do que entrei em contato com a mãe da escritora, para elogiar a qualidade do trabalho.

Qual não foi a minha surpresa quando soube que a escola tinha disponibilizado apenas dois exemplares da obra e que, no momento dos autógrafos, sua colega primeiro autografou o exemplar que hoje se encontra em minha casa, para depois autografar o que deu a seu pai, com recomendação de repassar à madrinha, para leitura.

Esta coleguinha de Leti, chamada Zaila, entrou em sua vida este ano, com a junção das turmas do 4o ano do ano passado, mas chegou de forma avassaladora! Daquelas coisas que a gente sente mas não consegue explicar...

Fico impressionada com a forma como as crianças, já na pré adolescência, se relacionam com a minha pequena; com o olhar carinhoso e respeitoso, com o amor que exala dos poros... E se já me impressionam as crianças que fazem parte da sua vida desde o início da jornada na Escola Arco Íris, isso aumenta ainda mais com as que chegaram na sua vida a menos tempo.

Meu coração se preenche só de lembrar desta conversa despretensiosa que tive com a mãe de Zaila, que me fez enxergar com mais clareza ainda a capacidade da minha filha de se fazer amar por aqueles que te cercam. Um sentimento que, por ser amor, invade e fim, parafraseando Djavan (rs).

O livro, sem dúvida, ficará guardado com muito cuidado e amor em nossa modesta biblioteca, simbolizando a linda e especial amizade construída neste ano de 2019.





sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Asas, Pra Que Te Quero?

Para voar!

No sentido literal e simbólico.

Num avião, ela voou para São Paulo, acompanhada de seus colegas, da equipe da sua escola e da representante da agência que, a cada dois anos, leva grupos para o Sítio do Carroção, na cidade de Tatuí.
 
Mas foi em terra firme que ela deu seus voos mais altos!
 
Ela, que em sua própria cidade não se permite dormir fora de casa, topou encarar a viagem de encerramento de um ciclo junto com sua turma, passar 3 dias e 2 noites longe da família, e se aventurar numa experiência completamente desconhecida.
 
No início, seu estímulo era apenas ter o lanchinho da madrugada, mas aos poucos ela foi se dando conta de que o que estava por vir era dotado de uma dimensão absurdamente maior e, ainda assim, mantinha-se firme no propósito de aventurar-se.
 
Era um sonho! A princípio, meu. Desde que soube da existência da viagem, alimentava o desejo de poder proporcionar-lhe este momento, mas sem saber se seria possível. Em seguida, da sua pró e sua monitora, que desde o início do ano evidenciavam o compromisso de tentar realizar este sonho junto comigo. Depois dela que, sabendo do passeio, começou a cogitar a possibilidade de participar. Por último, da equipe da escola e da agência de turismo, que não mediram esforços para propiciar, da melhor forma possível, esta experiência para minha pequena e, por tabela, para nós da sua família.
 
Pagamento efetuado, autorização de viagem expedida, enxoval organizado, foi hora de arrumar as malas e se preparar para voar!
 
O acolhimento e carinho de todo grupo (no qual incluo equipe da escola, crianças e seus pais) conosco foi amplamente demonstrado desde que noticiamos a ida de Leti ao Carroção. Eu sentia no olhar e no campo energético tanta vibração positiva que, em momento algum, pensei que algo pudesse dar errado. Como - efetivamente - não deu!
 
Seria uma experiência inédita para muitos envolvidos, mas todos esbanjavam motivação e disposição para fazer com que tudo desse certo.
 
E foi tudo lindo!
 
Minha princesa acompanhou seu grupo, participou de atividades adequadas a seus interesses e respeitantes a suas limitações, bem como experimentou encarar alguns desafios.
 
Todos foram muito cuidadosos para incluí-la nas atividades do grupo na medida do seu possível, mas possibilitando-a também as pausas necessárias para sua organização sensorial.
 
E mesmo que ela não tenha participado de todas as SENSACIONAIS atividades oferecida pelo Sítio, só por se permitir estar lá, sendo acolhida com carinho e respeito por todos, compartilhando dias e experiências com pessoas que fazem parte da sua vida e do seu processo de desenvolvimento, já a sinto empoderada, por se ver capaz de romper barreiras que antes poderiam limitar sua forma de viver a vida.
 
E isso é tão grandioso, tão emocionante!
 
Mesmo com todo o ambiente preparado para que tudo desse certo, para que o sucesso do passeio fosse completo havia uma parcela de contribuição que só dependia dela. Do seu engajamento, do seu desejo, da sua participação. E ela fez a parte dela!
 
Encarou a ponte balançante e o teleférico, atividades que normalmente lhe causariam muito temor, observou a balada de perto, mesmo com o desconforto do som alto, acompanhou os colegas na piscina, na visita à ossada do dinossauro e nas refeições, separou-se do grupo em alguns momentos para descansar, surpreendeu ao demonstrar assenhoramento de sua rotina e de regras de convivência em grupo e ao lançar tiradas divertidas e contextualizadas.
 
Ela viveu uma experiência única que, sem dúvida, ficará guardada em sua memória e deixará marcas que ainda não podemos dimensionar.
 
E eu reafirmei a certeza de que preciso continuar apostando na minha princesa que, sempre cercada por pessoas que trabalham com amor, com certeza cada dia alçará voos mais altos.
 
A cada pessoa envolvida na realização deste sonho, segue o meu grande, profundo e emocionado agradecimento.
 

 

 


 




 


 

 
 
 
 
 
 
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