domingo, 8 de dezembro de 2019

Caindo na Real


E o ano letivo acabou!

Passei o ano inteiro com o coração apertado, com medo da mudança, pelo fato de os colegas com quem Leti possui um forte vínculo saírem para outras escolas em 2020 e ela, por opção da família, ficar retida por mais um ano, para que possamos promover a transição com mais tranquilidade, já que não achamos recomendável ela seguir para qualquer das escolas que receberão seus amigos.

Mas até a última sexta, quando haveria a baladinha de despedida da turma, eu não tinha vertido uma lágrima por este motivo, o que, confesso, causou-me estranhamento.

Então cheguei em casa com ela, já depois das 21h, e, depois de promover os cuidados noturnos dela e de Teu, parei para olhar o material que tinha trazido da escola: umas fotos, um portfólio de geografia, um livro de autobiografia e uma cartinha.

Intuitivamente, ou talvez conduzida pelo cosmos, comecei a manusear o material partindo dos menos para os mais emocionantes, culminando com a cartinha escrita por Sophia, sua colega da Arco desde o primeiro ano e que, juntamente com Júlia, seguidas por tantas outras, sempre esteve a seu lado, demonstrando amor, carinho, respeito e cuidado por minha pequena.


Naquele momento caí na real! Naquele momento senti medo! Naquele momento me senti impotente!

A carta é concluída com uma frase simples mas que diz tanto: "você é linda do jeitinho que é"... 

E foi isso que minha filha teve ao longo dos cinco anos de escola: respeito e amor pelo que é. Não foi alvo de expectativas e tentativas de mudança, mas de ajuda para progredir dentro de suas capacidades; não foi excluída nos momentos difíceis, em que ficava mais agressiva e machucava seus colegas, foi acolhida e orientada a não agir daquele jeito; não foi ridicularizada por atitudes diferentes e estereotipias, foi até imitada em certo momento, para poder participar de uma atividade em grupo; não foi esquecida ante a iminência de eventos que imaginávamos não dar conta de participar, foi estimulada com carinho a tentar (como no Carroção e na balada de despedida).

E toda a postura respeitosa e amorosa de seus colegas e dos profissionais da escola, com certeza, ajudou a construir a Letícia forte e empoderada que ela é hoje; que deu conta de viajar com colegas e de se divertir numa balada barulhenta, que demonstra suas vontades com argumentos e sabe negociar como ninguém, que extrai risos de seus amigos com suas tiradas engraçadas, que surpreende com sua agilidade quando interesses gastronômicos estão em jogo...

Ela, que teve um ano complicado, com períodos bastante difíceis, conseguiu, com a ajuda dos colegas, e o trabalho impecável de Pró Luci e de Marina, evoluir tanto no processo de alfabetização, terminando o ano identificando sílabas de uma maneira tão linda, que me emociona.

Apesar de saber que poderei continuar contando com o suporte pedagógico da escola, para dar continuidade ao trabalho exitoso desenvolvido neste ano, ainda tenho um certo temor pela turminha que está por vir. 

Embora venha preparando Leti para a mudança há bastante tempo, não conheço seu nível de compreensão sobre a situação e seu envolvimento emocional com a turma e isso, sem dúvida, está me preocupando um bocadinho.

Me preocupa não encontrar o acolhimento e o respeito do tamanho que sempre teve, e na medida que merece, me preocupa não encontrar o amor que alimenta, que movimenta e que motiva a ir além, me preocupa não conseguir compreender seus sentimentos diante dos novos e desafios e não estar suficientemente apta a ajudá-la. Sei que teremos o suporte da escola, imagino que a linha seguida pela escola favoreça o olhar mais inclusivo, mas, ainda assim, me vejo tomada pelo medo. Como fico sempre diante de grande mudanças.

Por ora, procurarei não sofrer por antecedência e fortalecer minha pequena para o que estar por vir, deixando claro que os vínculos que foram construídos até aqui serão preservados para sempre. Pelo menos, assim espero.









Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Janaina, boa tarde. Meu nome é Andréia. Meu sobrinho Miguel (03 anos), possuí a mesma síndrome que sua filha. Meu irmão e esposa precisam muito de informações sobre médicos que tratam crianças possuidoras dessa síndrome, entre outras informações. Se puder nos ajudar, agradeço muito. Somos do Mato Grosso do Sul. Desejo que Jesus lhe dé muita força e saúde, consolo, e tudo mais que precisas,para continuar cuidando de sua filha. E tudo de melhor da parte de Deus para ela também. Deus abençoe vocês. Abraço
Meu whats é 67-991170884

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