domingo, 29 de janeiro de 2017

O entusiasmo como medida do comprometimento. Falando de inclusão.

Há tempos venho adiando o  momento de me debruçar diante do computador para tentar sistematizar minhas impressões sobre a experiência pedagógica de Leti no ano de 2016.
 
O ano de 2015 foi muito rico! E não dá para falar de 2016 sem antes fazer um pequeno resgate do inesquecível período que o precedeu.
 
Era um ano de expectativas, porque Leti mudava de escola, entrava no ensino fundamental e deixava de ter o acompanhamento da Ciranda Pedagógica, em respeito aos sinais que vinha apresentando no final do ano letivo de 2014 (falei sobre isso AQUI).
 
Em 2015 ela teve uma professora que, além de muito competente, estava pessoal e visivelmente comprometida com o seu desenvolvimento. E isso, cá entre nós, faz uma diferença absurda!!!
 
Ela teve o emocionante acolhimento de seus colegas de turma, teve o apoio substancioso - e afetuoso - de uma linda acompanhante terapêutica, além do comprometimento efetivo de todos os profissionais da escola que, direta ou indiretamente, relacionavam-se com ela.
 
Foi um ano efetivamente proveitoso, no qual ela aprendeu a escrever o próprio nome, conseguiu acompanhar e apreender conteúdos de ciências, inglês, "estudos sociais" (era assim na minha época rs), demonstrou estar completamente envolvida nas aulas de produção de texto (como relatado AQUI), e, para fechar com chave de ouro, nos brindou com uma linda participação no projeto final das aulas de teatro (vale recordar AQUI). Emociona só de lembrar...
 
Mas o ano seguinte seria diferente! Teria outra professora, outra acompanhante, sairia da Ciranda Pedagógica, e teria as atividades extracurriculares (teatro, música, biblioteca, arte e produção de texto) transferidas para o turno vespertino, num dia em que ficaria os dois turnos na escola.
 
Sem dúvida, um ano de muitos desafios!
 
A nosso favor, teríamos a manutenção da linda turma, que a acolheu de coração aberto, e da equipe de coordenação, que continuaria acompanhando o trabalho da regente e as intervenções do acompanhante terapêutico - AT.
 
Mas, confesso, meu sentimento em relação ao ano de 2016, desde o início, não era dos melhores. E não mudou depois de conhecer a professora.
 
Sabia que seria difícil um amor à primeira vista depois da experiência tão intensa do ano anterior. Mas nem a informação de que ela teria uma especialização em educação especial me fez acreditar que aquela profissional teria o comprometimento com a educação da minha filha que pró Mari tinha demonstrado no ano anterior.
 
Optamos, logo no início do ano, por contratar uma pedagoga, com acesso à escola e a sua psicóloga, para fazer o acompanhamento antes oferecido pela Ciranda Pedagógica e, antes do final do primeiro semestre, tivemos que trocar o AT, para tentar oferecer um trabalho mais focado no pedagógico.
 
Mas, apesar de a escola ser a mesma, com um lindo projeto de inclusão; da turma ser a mesma, com o respeito à diversidade e o genuíno carinho pela minha pequena; da AT ser comprometida e afetuosa;  e da pedagoga ser competente e acessível, as coisas não fluíram como eu gostaria.
 
E, infelizmente, terminadas as aulas, a constatação que fiz foi que, pedagogicamente, Leti evoluiu muito pouco no ano de 2016.
 
Alguns fatores, certamente, contribuíram para isso. O trabalho de 6 horas semanais da Ciranda Pedagógica foi substituído por um acompanhamento de 50 minutos; problemas pessoais no segundo semestre fizeram com que eu não pudesse oferecer a minha filha a atenção que eu pretendia e, por fim, a professora da sua turma não comprou a ideia da inclusão.
 
Talvez outros fatores possam ser somados aos que consegui enumerar mas, ainda assim, acredito, que o que mais contribuiu para o pouco avanço de Leti foi a postura da professora.
 
A sensação que ficou, para mim, é que ela simplesmente deixou a cargo da AT, que nem pedagoga é, apesar da experiência em sala de aula, todo o trabalho pedagógico da minha filha.
 
E isso ficava muito claro para mim cada vez que levava ou buscava Leti e não percebia o menor esforço dela para fazer qualquer trabalho que favorecesse seu avanço nos conteúdos trabalhados com a turma.
 
Embora sua AT tenha realizado um trabalho profissional, cuidadoso, dialógico e afetuoso, respeitando as individualidades da minha pequena, ela não poderia assumir responsabilidades que, por lei, são atribuídas ao professor regente e ser responsabilizada pelo processo pedagógico de Leti, uma vez que seu papel em sala de aula é manter o ambiente propício para que a professora possa trabalhar os conteúdos pedagógicos, com as adaptações que se façam necessárias.
 
Mesmo sabendo da dificuldade de Leti com os conteúdos de língua portuguesa, em virtude do atraso no processo de alfabetização, e de matemática, por conta da sua enorme resistência a tudo que se relacione ao mundo dos números, tenho convicção que os demais conteúdos poderiam ser assimilados perfeitamente por ela, que demonstra ter excelente memória e grande curiosidade pelo mundo que a cerca e a quem proporcionamos, sem falsa modéstia, experiências sociais e culturais que acabam se revertendo em conhecimento.
 
Não sou eu que digo, é uma constatação de todo profissional que tem a oportunidade de trabalhar com minha pequena: ela tem um enorme potencial cognitivo a ser explorado.
 
Mas a sensação que tenho (e que enche meu coração de culpa) é que o ano passado foi um ano perdido.
 
Talvez seja uma conclusão demasiado dramática, eu sei. Mas ter a sensação que ela podia ter avançado mais e não o fez me deixa, sim, culpada. Culpada por não ter acompanhado mais de perto, por não ter cobrado mais, por não ter investido mais, por tudo que não fiz, enfim.
 
E, pensando sobre isso, consegui perceber um outro sinal que demonstra, com maior clareza ainda, a ausência do comprometimento da professora de Leti com o seu desenvolvimento (que vai além do seu processo pedagógico).
 
Fazendo uma longa retrospectiva (longa porque Leti tem acompanhamento terapêutico desde seu sétimo mês de vida), percebo que TODO profissional que passou por sua vida (e quando digo TODO é TODO mesmo. Aliás, agora isso se relativiza) construiu com ela uma relação de afeto que transcende, e muito, o profissional.
 
Falo isso com um orgulho enorme porque percebo que Leti tem o poder de encantar aqueles que passam por sua vida. Constantemente, percebo o brilho nos olhos das pessoas ao relatar uma peraltice sua, uma sacada curiosa, uma demonstração de aprendizado ou de carinho.
 
Não raras foram as vezes em que profissionais que passaram por sua vida me procuraram pelo facebook para dar um emocionante feedback sobre a relação construída com a minha pequena.
 
Que mãe não se orgulharia disso???
 
Tantas outras vezes ela foi abordada em diversos lugares para dar ou receber um beijo, um abraço, um carinho...
 
Percebo  um entusiasmo nas pessoas que passam por sua vida. Uma coisa meio contagiante. Um prazer em contribuir para seu processo de desenvolvimento, por colher resultados...
 
E é impressionante como consigo enxergar este entusiasmo em cada profissional que passou por nossa vida.
 
Mas com a última professora o que percebi foi que o entusiasmo foi substituído por indiferença.
 
Cheguei a pensar que querer exigir isso fosse uma pretensão minha. Uma vaidade. Sei lá. Algo do tipo: tenho uma filha apaixonante, todos têm que se apaixonar por ela.
 
Mas, amadurecendo a ideia, não acho que seja isso.
 
Acho que esse entusiasmo é uma decorrência lógica do comprometimento. Porque é inevitável nos entusiasmarmos com aquilo com o que estejamos comprometidos.
 
Se há o comprometimento efetivo, há o desejo de ver o resultado, e o desejo se reverte em entusiasmo, sendo seu principal combustível.
 
Mas no ano passado vivenciamos uma experiência diferente, colhemos frutos diferentes e pude perceber, na pele, que o melhor projeto de inclusão não sobrevive se o professor não encampar a ideia.
 
Como o tempo não volta, resta-me estar mais atenta e tomar providências para tentar minimizar os prejuízos cognitivos que o ano de 2016 possam ter proporcionado a minha filha que, apesar de tudo, teve avanços significativos nos outros aspectos da vida.
 
 
 
 
 
 

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