sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Mudanças à Vista: como tudo começou (parte 1)

Mudanças estão por vir. Grandes mudanças! Tão grandes que têm tirado o meu sono desde antes do carnaval.

Como sugerido pela TO de Leti (como falei aqui), no início do mês, levei-a para avaliação com uma psicóloga. 

Coincidentemente, entre o dia em que fiz contato com ela (uma sexta) e o dia da avaliação (uma segunda), Leti mordeu a própria bochecha até sangrar de molhar o seu colchão. E não derramou uma lágrima de dor. Fiquei desesperada e, mais do que nunca, achei apropriadíssima a avaliação.

O incidente aconteceu na sexta à noite. Estávamos com uma babá nova (há uns 10 dias), acompanhada de uma antiga e, acreditando que Leti dormiria logo, fomos, eu e Samir, ao cinema, como costumamos fazer nas noites de sexta feira, deixando Lipe de sobreaviso, para passar o olho na irmã. Quando o filme já estava para acabar, recebi uma ligação de Lipe falando que o colchão de Leti estava todo coberto de sangue, que ele não sabia de onde vinha.

Voltei para casa desesperada e encontrei-a deitada, chamando por mim e pelo pai. O lugar já estava limpo e as meninas falaram que ela não tinha se machucado em lugar nenhum. Quando fui olhar sua boca, percebi a bochecha, por dentro, em carne viva. Meu coração deu um nó!

Logo depois que chegamos, ela adormeceu.

No dia seguinte, liguei para uma amiga para pedir indicação de uma pomada para usar no local e ela questionou se não seria o caso de Leti precisar usar algum tipo de medicação para controlar sua autoagressão. Falei da avaliação com a psicóloga e que achava que, se fosse o caso, ela aconselharia o encaminhamento médico para a medicação.

Sempre fui muito resistente ao uso de medicamentos. E, na verdade, Leti nunca precisou. Sempre fez o tipo quietinha, quando a experiência que eu conhecia era de medicação para conter hiperatividade. Tinha muito medo dos efeitos colaterais a médio e longo prazo...

Mas o comentário da minha amiga me colocou a pensar sobre o assunto.

E, fazendo uma avaliação, percebi que Leti estava potencializando muito seus comportamentos autodestrutivos: mordendo o próprio braço, batendo em sua testa, se arranhando, apertando as bochechas até ficarem vermelhas, e, agora, mordendo a bochecha a ponto de tirar sangue... Ao mesmo tempo, tem sido mais agressiva também com as outras pessoas; tem arranhado muito a mim e ao pai (e também outras pessoas), tem tentado bater, morder, beliscar... Em alguns momentos, chega a dizer antecipadamente que "quer doer", e bate na própria cabeça.

Por outro lado, passei a observar mais detidamente também suas demonstrações de extrema ansiedade: o balanço constante, o jogar-se no chão, a dificuldade de esperar quieta, sem fazer nada, enquanto come, a dificuldade de se concentrar...

No dia do encontro com a psicóloga, Leti estava difícil! Se balançava muito, não dava atenção ao que ela lhe pedia, não brincava com os brinquedos que ela lhe apresentava, não permitia qualquer acesso!

Mas ela percebeu que, quando eu falava de algo do seu interesse, Leti parava de se balançar e prestava atenção (como quando falei da sua compulsão pela comida). Numa outra vez, já no final da conversa, quando eu falava do potencial cognitivo de Leti, e relatava que tinha ficado surpresa ao perceber que sabia cantar parabéns em inglês, ela novamente parou de se balançar e cantou um lindo happy birthday to you.

Ela me perguntou se o acesso a Leti era sempre tão difícil assim. Respondi que ultimamente vinha sendo.

Ela perguntou sobre sua participação na escola, sobre seus avanços, sua interação... Questionou se seria válido mantê-la na escola com esse perfil tão aparentemente desfavorável.

Daí veio a sugestão de participação na Ciranda. 

A Ciranda é um trabalho pioneiro que a clínica da TO de Leti tem desenvolvido aqui em Salvador, de terapia intensiva, com um enfoque sensorial, aliado a uma abordagem motora e de linguagem. 

A vantagem seria, além da terapia intensiva, o acompanhamento quase individualizado aos pequenos grupos de crianças. 

A inspiração surgiu da constatação dos resultados obtidos com crianças estimuladas com abordagens comportamentalistas, através de um trabalho de terapia intensiva. Mas o substrato teórico do trabalho se afasta um pouco das abordagens comportamentalistas e concilia um pouco da filosofia do flortime, sonrise e afins.

A ideia é que, com um grupo pequeno de crianças, e com mais profissionais envolvidos, durante nove horas semanais (3 horas por dia, três dias por semana), se possa ter um cenário mais favorável para trabalhar a ansiedade de Leti e suas relações interpessoais.

A proposta é, sem sombra de dúvida, sedutora!

Mas há um porém: só há turmas da Ciranda à tarde, quando Leti está na escola. Não há um número suficiente de crianças que justifique, ainda, a abertura de turmas no turno matutino.

E, sendo assim, as possibilidades que se abririam caso optássemos pela Ciranda, seriam: manter a escola apenas duas vezes por semana, temporariamente; sair da escola; mudar o turno da escola para o matutino (em cuja turma já há duas crianças de inclusão); ou, ainda, mudar de escola.

Saí da sessão convicta de que colocaria Leti na Ciranda, manteria na escola duas vezes por semana e, além disso, procuraria aulas de natação e marcaria consulta com a neuro, para analisar a necessidade da inclusão de medicação (sugestões dadas pela psicóloga).

Mas recuei, achei melhor amadurecer a ideia, discutir melhor com os terapeutas, com a escola e, principalmente, ouvir a opinião do papai sobre tudo isso.

Se houvesse turma da Ciranda pela manhã, não hesitaria em colocá-la imediatamente. Mas a interferência na escola tem mexido comigo, tirado meu sono, colocado os terapeutas e profissionais envolvidos para pensar...

2 comentários:

Vaneska disse...

Minha amiga querida... sua angústia me contagiou... fiquei aqui refletindo, pensando em Leti, pensando em você, pensando em Lucas, em mim... e em tudo novo que a cada momento nos tem sido apresentado.
Não, não é fácil. Nada fácil conviver com tantas incertezas. Isso é o que nos angustia.
Bom, vou ficar pensando em vocês. E mandando todas as boas energias e vibrações que eu puder para que as coisas se resolvam logo (porque eu sei que tudo vai se resolver da melhor forma) e que você poste um texto aqui contando mais um capítulo de superação. Estou torcendo por vocês.
Qualquer coisa, estou aqui.
Muitos beijos,
Van.

Gusmão disse...

Olá!
Gostaria de saber quem é a T.O de Leti. Por acaso, é Ana Marta?
Abraços!

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