Viajar com criança pressupõe estar preparada para o imprevisível!
Mateus queria conhecer a neve. Decidimos bancar a realização do seu sonho. Escolhemos o destino, combinamos com amigos queridos, organizamos a logística e montamos todo o roteiro no sentido de promover a realização deste sonho. Iríamos a Bariloche.
Para a viagem ficar mais tranquila e menos cansativa, optamos por parar um dia em Buenos Aires, tanto na ida como na volta.
Na ida, programamos visita ao Bosque de Palermo e ao Museu de Los Niños para atender aos pequenos, além de um jantar no Estilo Campo - já que é um pecado estar em terras argentinas e não se proporcionar o prazer de comer uma boa carne - e, na volta, passamos o dia no Temaiken.
No dia de chegada em Bariloche, optamos por almoçar no hotel e passear pelo Centro, para ter uma visão geral e alugar as roupas de neve necessárias para os passeios que faríamos. Até aí tudo bem.
Mas eis que no dia seguinte, quando visitaríamos o Cerro Cathedral, Teu amanheceu com dor de cabeça e enjoos, iniciando uma tortuosa sequência de vômitos, que acabou por inviabilizar o passeio do dia.
Durante todo o dia ficamos no quarto do hotel, e ele só dormia e vomitava, o que começou a me deixar apavorada, com medo de desidratação.
Depois de contactar o seguro de viagem, optamos por levá-lo a uma clínica pediátrica para avaliação. Lá, a médica que nos atendeu recomendou que Teu fosse avaliado por uma cirurgiã que havia sido contacta para atender uma outra criança que precisava tomar pontos, nos informando, no entanto, que seus honorários deveriam ser pagos à parte.
Ela estava suspeitando de apendicite porque, no toque local, Teu se contorcia de dor e achava mais seguro uma avaliação clínica de um especialista que um exame de imagem. Concordamos.
A simples suspeita me tirou o chão. A possibilidade sequer havia passado por minha cabeça já que, em momento algum, ele havia se queixado de dor e eu imaginava que a dor crônica seria o único indicativo para a apendicite, cujo tratamento - eu sabia - era cirúrgico.
A avaliação da cirurgiã confirmou a suspeita: meu filho tinha apendicite. Não estava autorizado a viajar para fazer a cirurgia em Salvador e eu precisava decidir, o mais rápido possível, se ele seria operado na rede privada, por médico indicado pelo seguro saúde (o que demandaria bastante tempo para autorização) ou na rede pública pela médica que o avaliou, Dra. Noiana Etche.
Foi o momento mais difícil de toda nossa via crucis na terra do doce de leite. Optamos por encarar o hospital público, acompanhados da médica que nos havia inspirado confiança. Ela nos orientou como chegar e quem procurar, enquanto ia a sua casa, se organizar para voltar ao hospital.
Fomos acolhidos por uma médica muito carinhosa, que falava português com perfeição e, da admissão até a alta, só tenho elogios a toda a equipe que passou pelo nosso caminho.
Era desolador ver meu filho com aquela expressão triste de medo, se maldizendo da sorte por ter que se submeter a uma cirurgia quando queria estar se esbaldando na neve.
Só de lembrar os olhos marejam...
Mas precisávamos ser firmes!
A equipe foi de uma humanidade de emocionar. A médica assistente foi visitá-la assim que chegou e, quando descobriu que ele gostava de pets, pegou seu celular para mostrar os que tinha e tentar deixá-lo mais descontraído; o anestesista, ao ver sua resistência ao entrar no centro cirúrgico sem mim, começou a fazer sua sedação no corredor, para que entrasse dormindo...
Vê-lo entrar de maca no Centro nos destruiu, foram minutos de tensão até a médica sair e dizer que a cirurgia havia sido bem sucedida. Neste momento desmoronamos e choramos como crianças, eu e Samir.
Em menos de 24h tivemos alta e pudemos voltar ao hotel, com orientações acerca dos cuidados necessários.
No dia seguinte fizemos o tour no Circuito Chico, que não exigia grandes esforços.
No último dia, depois de muito ponderar, resolvemos levar nosso pequeno para brincar um pouco na neve, antes de pegar o voo de volta para Buenos Aires. Fomos ao Cerro Otto.
Sabíamos que o pós operatório era tranquilo, que ele estava bem, mas, sim, havia um certo risco, ainda que pequeno. Compramos o risco.
Chegamos quando a estação abriu e ele brincou por cerca de 2 horas. A princípio, só pegando a neve, jogando em nossa direção, tentando fazer um boneco... Depois, encontrou uma base para skibunda e foi se aventurando aos poucos, na medida da suas possibilidades.
Apesar do curto tempo, foi o passeio que mais se aproximou daquilo que havíamos imaginado para a viagem.
Já em Salvador, demos continuidade aos cuidados necessários e recebemos, por email o exame anatomopatológico, que confirmou a apedicite aguda, descartando implicações mais graves.
Passado o susto, restou-nos reprogramar a viagem para 2020, para sonharmos este sonho juntos e direito da próxima vez.
Que Deus nos proteja!
Nenhum comentário:
Postar um comentário