sábado, 15 de outubro de 2011

Hiperatividade Seletiva?

Meu primeiro compromisso logo que cheguei de viagem foi uma reunião com a orientadora da escola de Lipe.

Eu achava que a reunião seria uma complementação de outra, ocorrida cerca de 2 meses antes, quando, depois de uma longa conversa, a então orientadora, aventara a possibilidade de meu filho estar acometido de hiperatividade e precisar de medicação para conter seu tal comportamento hiperativo.

Saí desta primeira reunião atordoada. Liguei para Samir, meio perdida, sem saber o que pensar e o que fazer. Me pediram que o levasse para uma avaliação com uma neuro, pontuando os aspectos levantados pela escola.

Cheguei a marcar a consulta com a neuro de Leti que, coincidentemente, foi a que a escola recomendou.

Mas minha primeira providência foi marcar um horário com a psicóloga dele. [ele participava de um grupinho terapêutico, há aproximadamente um ano, por indicação da professora da escola do ano passado, para tentar trabalhar a atenção, a dispersão e melhorar o diálogo em sala].

Falei da conversa na escola e perguntei o que achava. Ela me perguntou como ele era em casa com as atividades do seu interesse. Perguntou se se concentrava ou se mantinha a mesma dispersão relatada pela escola. Falei que, com as coisas que gosta, mantém um período longo de concentração, como para assistir os programas de TV, os jogos de futebol, para jogar video game, para ler livros, pesquisar lances futebolísticos mirabolantes no youtube...

O que ela me disse foi que a hiperatividade, patologicamente falando, não se apresenta de maneira seletiva. E que é impossível que uma criança hiperativa consiga se concentrar em qualquer coisa, por muito tempo, mesmo que seja do seu interesse. Ainda exemplificou que ele poderia até assistir seus programas de TV, mas o faria dando cambalhotas, correndo pela sala, ou fazendo qualquer outra coisa ao mesmo tempo.

Concluiu, por fim, dizendo que, sob o seu olhar profissional, Lipe não seria uma criança hiperativa. Mas que isso não significava que tudo ia bem na escola, uma vez que o seu comportamento dispersivo, nas horas em que se demandava sua atenção, era algo que precisava ser trabalhado para que ele pudesse entender que, infelizmente, na vida, nem sempre fazemos apenas o que nos agrada.

Cheguei a falar que as queixas feitas pela escola não eram novidade para mim; que, em casa, para que ele desse conta das atividades de vida diária (banho, escovar dentes, sentar para fazer os deveres de casa,...) eu precisava mandar umas dez vezes, antes que ele efetivamente fizesse o que eu pedia. Confessei que, às vezes, eu falava as dez vezes seguidas e perguntava se assim ele poderia me obedecer logo.

Ela me alertou sobre meu erro e sobre como isso reforçaria uma ausência de autoridade naquilo que eu  lhe pedia. Aconselhou que conversasse com ele, falando da minha conversa com ela, e que combinasse que, dali em diante, eu só pediria uma vez para que fizesse algo; que ele poderia até contra argumentar, tentar negociar um prazo, mas que eu não iria admitir que fingisse que não tinha me ouvido. (e, se não me atendesse, eu o pegaria pelo braço e levaria para fazer o que havia pedido).

Pediu que estabelecêssemos regras para que ele se implicasse mais em suas obrigações: que estipulássemos um horário de descanso quando chegasse da escola e o horário de início das tarefas de casa, sem que eu precisasse, a cada dia, chamá-lo para se sentar para o cumprimento de suas obrigações.

Segui à risca seus conselhos, e acho que até funcionou bem. De vez em quando precisamos fazer uns ajustes, mas, de uma maneira geral, os resultados foram positivos.

Antes da consulta com a neuro, ainda conversei com outras pessoas. O depoimento de duas delas, uma amiga blogueira que tive o prazer de conhecer por aqui, e uma tia que é uma referência  muito positiva em minha vida, por ser uma excelente profissional, uma pessoa extremamente coerente em suas convicções políticas, filósoficas e sociológicas, e uma pessoa que admiro de verdade, me marcou muito.

As duas se descreveram exatamente como Lipe é em sala de aula: faziam tudo muito rápido, pegavam o assunto muito rápido, se desinteressavam pelas atividades que não eram do seu interesse e sempre tiravam excelentes notas.  Seriam típicas alunas hiperativas do seu tempo! E as duas são pessoas muito bem resolvidas hoje em dia. São, para mim, formadoras de opinião. Sinceramente, tenho uma leve tendência em acreditar em tudo o que dizem... rs

Logo depois, minha irmã me falou que ouvira recentemente no rádio uma entrevista  na qual se falava de uma inclinação das escolas em sugerir diagnóstico de hiperatividade dos alunos, ante a dificuldade de acompanhar as mudanças de comportamento das crianças, decorrentes das mudanças da vida moderna.

Ainda, numa conversa informal com a neuro, numa festa de aniversário na qual nos encontramos, ela  também me tranquilizava, dizendo não achar que o quadro de Lipe fosse um quadro típico de hiperatividade, que demandasse acompanhamento clínico.

E, por fim, tempos depois, numa reunião de pais na escola, para discutir problemas gerais da turma, a professora relatava que sua turma deste ano possuía uma característica peculiar de imaturidade, e que a maioria dos alunos precisava do acompanhamento mais de perto da professora, para que as coisas pudessem caminhar bem. Ou seja, o problema de Lipe não era só de Lipe, mas uma característica da turma.

Pois bem. Fui a esta segunda reunião munida de todas essas informações para combater uma nova suspeita de hiperatividade por parte da escola.

Mas a coordenadora em exercício que me atendeu (a outra estava exercendo uma outra função) não enveredou pelo mesmo caminho.

Falou dos problemas já conhecidos por mim, das investidas da professora para tentar facilitar sua concentração em sala e disse que, na verdade, o objetivo da reunião era afinar o discurso escola x família, para que ele não se sentisse fortalecido ao perceber que tudo o que a professora falava em sala acabava caindo no vazio, sem consequências, já que não contava com o reforço em casa. Corretíssima!

Falou, ainda, que Lipe se relaciona muito bem com praticamente todos os meninos da sala, e que exerce uma certa autoridade sobre a turma, o que acaba provocando balbúrdias, já que, sempre que ele começa uma brincadeira fora de hora, encontra pronta adesão de seus colegas, o que faz com que a situação acabe saindo do controle. Disse também que ele nunca é agressivo ou desrespeitoso, e que se envolve muito mais com atividades que envolvam arte.

Assegurei que conversaria com ele em casa, como efetivamente fiz, e ficamos de manter um diálogo mais próximo para conseguirmos manter uma postura coerente escola / família.

(Mas, confesso que fiquei surpresa com a informação da escola sobre a postura desenvolta de Lipe em sala, e com a "liderança" sobre os colegas. Como ele é diferente de mim)


3 comentários:

Mariana - viciados em colo disse...

não me causa nenhum espanto quando vejo crianças que não prestam atenção na aula: o conteúdo dado na escola atualmente para esta geração é irrelevante. foi irrelevante para nós e será ainda para eles.

mas realmente me espantei com o parecer da psicologa e mais ainda com a solicitação da escola. perfeitas!

por favor, jana, me mande o telefone e o nome desta profissional!

beijoca


(*) não lembro se conversamos sobre isso, mas EU podia ser esta blogueira perfeitamente. carapuça encaixadinha!

Janaína Mascarenhas disse...

Mari, a blogueira é vc, sim. Conversamos sobre isso no Café, naquele dia com Ivana. Vou te mandar o contato da psicologa por email. Bjk

aprendendoasermae disse...

Jana é muito legal vc postar esse fato,pois hoje existe uma tendencia muito clara de alguns profissionais de usar um rotulo pronto para tudo.Exemplo : criança com febre e tosse ou mal estar virose.Pode ser como tambem não então é bom procurar sim outras opiniões para se chegar em um denominador comum.

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