quarta-feira, 16 de maio de 2012

Reunião de Pais

Há tempos quero escrever sobre as minhas impressões da reunião de pais da escola de Leti, que aconteceu há um mês.

Fui para a reunião cheia de expectativas. Achava o projeto pedagógico da escola meio solto, desconhecia a rotina da turma e não conseguia vislumbrar como os conteúdos eram trabalhados para alcançar a proposta curricular (que também não era do meu conhecimento).

E minha dificuldade não decorria do fato d´eu estar acostumada com escola tradicional. Lipe hoje estuda numa escola tradicional, mas, até a alfabetização, havia estudado numa escola construtivista, e lá eu não tinha dificuldade em perceber onde a escola queria chegar com seus projetos pedagógicos. (É bem verdade que, naquela época, inclusão era um tema completamente alheio à minha vida, e que Lipe nunca foi um garoto de despertar preocupação na escola, pelo contrário, sempre foi bem adiantado).

Mas, enfim, eu fui para a reunião para saber quais eram os conteúdos trabalhados na turma de Leti para, daí, poder pensar em alternativas para tentar uma antecipação em casa, para facilitar sua participação em classe, e para repassar as informações à TO, que havia ficado encarregada de fazer o trabalho de adaptação curricular.

O projeto do semestre da turma de Leti é Palavras de Baú. E, dentro da temática, a figura do pirata apareceu forte e norteou todo o trabalho desenvolvido com as crianças.

Para começar a reunião, a professora nos convidou a vivenciar um pouco do que vinha sendo proposto às crianças da turma. Estas haviam preparado um mapa do tesouro junto com a pró e nossa missão seria seguir as pistas e encontrar o tesouro escondido pelas crianças.

Apesar de saber que Leti pouco deve ter participado do roteiro da reunião de pais, embarquei na fantasia junto com os pais ali presentes. Fomos todos seguindo as pistas preparada pelas crianças e, ao final, o tesouro escondido sob um X, era um enorme baú branco, contendo o portfólio da turma e algumas amostras de trabalhos feitos pelas crianças no início do semestre.

Para incrementar a ludicidade da atividade, Lucas, brincante da escola (sim, na escola de Leti tem um brincante, na do seu filho não tem???), se vestiu de pirata e, nos pontos do mapa onde havia sinalização de perigo, ele apareceu; uma vez lançando traques de massa, na outra, promovendo uma verdadeira chuva de bolinhas (daquelas que têm em piscina de bolinhas), para atrapalhar nossa busca por pistas.

A brincadeira foi uma delícia! Fiquei imaginando como deve ter sido para as crianças ver um pirata na escola, ouvir suas histórias, ficar na dúvida se ele era de verdade ou não...

E, logo que encontrado o nosso baú do tesouro, fomos para a parte mais esperada da reunião: a apresentação do projeto, para mim uma grande surpresa.

A professora, seguindo o portfólio da turma, foi nos mostrando o que vinha sendo trabalhado com as crianças.

Eles, no início da aula, têm trabalhado calendário, marcando o dia da semana, e o "quem veio e quem não veio", para trabalhar conceitos matemáticos (contagem). Em relação ao calendário, confesso que preciso pensar numa maneira de fomentar isso melhor em Leti, já que percebo que ela não tem qualquer noção de tempo. Nem dentro do dia ela se orienta para saber que de manhã se toma café, ao meio dia, o almoço e, à noite, a janta. Imagina orientação quanto a dias da semana...

Eles estão começando a trabalhar com as fichas dos nomes e, daí, vem a familizarização com as letras, a distinção entre as letras (e palavras) e os desenhos, a associação das letras a algumas palavras.

Leti, que mal pega no lápis direito, ainda não consegue grafar nada parecido com letras, seus rabiscos já são grande progresso, mas, para tentar minimizar seu atraso, tenho intensificado o reconhecimento gráfico em casa: sempre que leio um livro, vou passando o dedo por baixo das palavras, sempre que desenhamos, coloco seu nome no desenho e, sempre que temos oportunidade, faço associações de letras a palavras (ex: Oh, o "L" de Letícia. É também de Lucas, filha - colega da escola... e ela: - de liquidificador #todascomemora).

Tiveram alguns momentos de visita à cozinha da escola, para cozinhar comidas de pirata. O objetivo? Trabalhar conceitos matemáticos: quantidades, noção de mais, menos; cheio, vazio... Fizeram brigadeiro de pirata (adaptação para a páscoa) e peixe de pirata. Consegue imaginar a delícia que deve ser estudar matemática fazendo brigadeiro???? Ainda mais para minha pequena gulosinha...

Antes do preparo do peixe, o biológo da escola levou um peixe fresco que eles dissecaram para estudar a sua formação e composição. Ainda com o biólogo, surgiram algumas discussões sobre baleias e tubarões, vizinhos ilustres dos amigos piratas, moradores do mar, que instigaram sobremaneira a curiosidade dos pequenos.

Logo que soube, através da agenda, que eles tinham ido para a cozinha, passei a fazer isso em casa também (como falei aqui), para trabalhar suas habilidades no manuseio dos ingredientes, e para reforçar o conteúdo matemático trabalhado na escola.

A pró ainda mostrou uma produção de trabalho de motricidade fina. A ideia era cortar partes do pirata e montá-lo (colando-o) numa folha de papel. Como Leti não tem motricidade para a tesoura, a maneira que ela encontrou de fazer sua atividade, foi rasgando com as próprias mãos. Claro que ficou tudo meio tortinho, mas digno de comemoração por ela ter encontrado o SEU jeito de resolver aquele problema.

Como ela tem muita resistência à tesoura, e não aceita que seguremos sua mão para que ela mantenha os dedos naqueles círculos, comprei duas tesouras da Faber-Castell (vide foto extraída do site da Submarino), na qual ela não precisa pôr os dois dedinhos no círculo para cortar, mandei uma para escola e deixei a outra em casa, para trabalhar com ela. Temos cortado materiais mais rígidos, para motivá-la mais, já que fica mais fácil, como pratinhos de isopor e papel duplex. Mas sinto que será um caminho longo até o manejo correto da tesoura. Hoje sua TO recomendou que usasse com ela uma tesoura com uma mola (vide foto extraída daqui), com a qual ela só precisa apertar (e não precisa fazer o movimento de volta) para cortar, para ela não se acomodar com a tesoura "adaptada". Vou providenciar.

 
Vimos também outras atividades, de desenhos, contação de história e reprodução gráfica das histórias contadas, de (tentativa de) escrita... E, apesar do atraso de Leti em relação à sua turma ser evidente, saí dalí fortalecida e motivada a estimular ainda mais minha filha a reduzir, a cada dia, essa diferença.

Não restou dúvida para mim de que o projeto do semestre estava todo fechadinho, que conteúdos sociais, afetivos, cognitivos e de autonomia estavam sendo devidamente trabalhados e que todo o trabalho desenvolvido pela escola tem respeitado, como a escola mesmo divulga, as Cem Linguagens. Achei o máximo a intervenção do brincante, da nutricionista e do biólogo no projeto!

Estou de coração tranquilo e convicta de ter feito a escolha certa.


Obs: O desenho de Leti, praticamente, se resume a rabiscos em posição vertical. Uma vez ou outra, muito raramente, sai uma tentativa de círculo. Hoje, desenhando com ela, ela fez uns rabiscos e disse que era o barco. Aproveitei a "deixa", e fui estimulando. Ah, então vou fazer o mar (e desenhei uns rabiscos na horizontal). Ela prontamente disse: - a areia! Sim, filha, faça a areia da nossa praia. Ela fez uns pontinhos (já tinha feito isso antes para simbolizar a areia). Depois, sem que eu pedisse, ela fez uns riscos horizontais, próximos aos meus e disse: o mar. Linda! E assim, devagrazinho, ela vai soltando a artista que há em seu interior.

2 comentários:

Mariana - viciados em colo disse...

vc sabe que sou louca pela escola de Leti, vejo muitas práticas parecidas com a de alice.

considero que eles radicalizam (no bom sentido) ao extremo o processo de construção do conhecimento. talvez por serem mais jovens, por serem menores!

espero que vocês aproveitem esta fase do ensino infantil, quando ainda existe uma certa liberdade de cobranças e resultados formais... todos ganham: Leti, os colegas e a escola!

Beijoca

Unknown disse...

nossa Jana, que trabalho lindo e consistente da escola, e lendo a sua descrição a respeito do que vem trabalhando em Leti também em casa vejo como essa parceria é importante, é um caminho que se constrói junto: família e escola.

bjos!

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