segunda-feira, 26 de junho de 2017

Mãe em sistema de revezamento

A maternidade impõe escolhas, prioridades. Para quem realmente se propõe a ser mãe, a vida deixa de ser como era antes, depois que a cria nasce. E não tem como ser diferente! O bebê humano é o mais dependente dos mamíferos e, nos primeiros anos de vida, demanda cuidados sem os quais sua vida corre perigo. O tempo para as atividades antes corriqueiras, portanto, fica mais escasso. E como não ganhamos, de bônus, horas excedentes em nossos dias depois que nos tornamos mães, surge a necessidade de fazer escolhas.
 
É claro que dá para continuar trabalhando, malhando, cuidando do casamento, encontrando as amigas,  acompanhando as notícias, viajando... depois que se tem filho. Mas não há como negar que são necessários ajustes para descobrir a melhor forma de colocar a dinâmica para voltar a funcionar, sem que os compromissos antes assumidos (conosco e com o outro) prejudiquem o compromisso maior que acaba de chegar.
 
Pois bem. Se com UM filho, a vida da gente já muda consideravelmente, imagina com TRÊS. E se os três têm idades completamente diferentes e um deles ainda tem necessidades especiais, ah, aí o nível de complexidade pode aumentar em proporções geométricas.
 
Neste caso, a maternidade impõe, além de escolhas e prioridades, uma cota extra de criatividade e de disponibilidade para o aprendizado. Diariamente.
 
Tenho abusado da minha cota extra de disponibilidade para o aprendizado para exercer a maternidade em casa. E este exercício tem potencializado o uso da minha criatividade. Com a primeira, descobri que preciso aceitar a fazer programações em separado com meus filhos, para melhor atender a seus interesses (falei sobre isso neste post), com a segunda, vou tentando colocar a descoberta em prática.
 
E assim nasce a mãe em sistema de revezamento. Mãe que leva o filho mais velho a uma escola, e os mais novos a outra; mãe que vê animação no cinema com os pequenos de tarde, e comédia americana com o grande à noite; mãe que caminha com a filha - em ritmo quase de passeio - pelo condomínio à tarde, e transpira com o mais velho na academia à noite; mãe que aproveita quando um dos filhos quer passar um turno na casa de um dos avós, para poder dar uma atenção mais intensa ao que ficou em casa; mãe que precisa ser dura - de vez em quando - com aquele que sempre demanda atenção, para poder cuidar daquela que, se deixar, fica em seu cantinho o dia todo (mas que começa demandar seu espaço também); mãe que, vez por outra, invade o quarto do adolescente altas horas da noite, para colocar em dia o papo que ficou sacrificado pelo cuidado com os pequenos; mãe que exercita a sensibilidade para perceber que programação cabe para cada filho, em conjunto ou separado, oportunizando-se o exercício da escuta; mãe que se desdobra para descobrir a melhor forma de atender aos interesses e às necessidades dos filhos.
 
E olha que só estou falando do revezamento na maternidade. Desconsiderando todos os outros necessários para a prática das atividades do nosso dia-a-dia.
 
Lendo, pode soar cansativo, mas (tirando - para mim - a dificuldade de admitir fazer programação familiar com a família compartimentada) o sistema vai-se impondo de forma tão natural que nem nos damos conta.
 
Em alguns dias o revezamento sai redondo, proporcional, e eu durmo feliz, com a sensação de dever cumprido; em outros, fico com a impressão que algo poderia ser feito de um jeito diferente. Nestes dias, já fui dormir inundada de culpa, me sentindo em débito com um dos meus filhos. Hoje em dia, lido melhor com a situação, sabendo que a dinâmica familiar não pode ser otimizada através de uma equação matemática, e que estas inexatidões fazem parte do processo. E assim vamos seguindo.
 
Mas ontem foi um dia redondo, feliz! À noite, quando o dia insistia em anunciar o seu fim, a sensação que me invadia era de plenitude, de felicidade incontida, de... sei lá, algo indizível...
 
O início do dia já dava pistas do que estava por vir.
 
Leti acordou feliz. Irreverente. Logo que entrei em seu quarto ela me saiu com a pérola: "Mamãe, vamos conversar? Eu quero resenhar com você." (resenhar é uma expressão muito usada pela família de Samir).
 
E aqui vale abrir um parêntese.
 
Dias antes, quando tive a reunião devolutiva da Ciranda, eu conversava com a TO coordenadora do seu grupo e ela questionava se o discurso de Leti sempre focado em comida, mesmo quando está indiscutivelmente saciada, não seria uma maneira, ainda incipiente, de incremento do seu processo de comunicação. Ela dizia que quando Leti chegava já pedindo biscoito, mesmo tendo acabado de almoçar, ficava com a sensação de que o que ela queria, de fato, era falar algo do tipo "oi, Luíza, tudo bem?". Mas, com o repertório viciado, o diálogo começava meio às avessas.
 
Ouvir este seu convite logo pela manhã me fez pensar que Luíza, realmente, deve estar certa.
 
E me fez recordar do desenvolvimento do processo comunicativo de Leti e da significância de cada etapa: no início, quando queria que ela simplesmente falasse; depois quando desejava que formasse frases; em seguida, quando o desejo era que as frases fossem funcionais; depois, que falasse um pouco sobre sentimentos; que falasse na 1a pessoa...
 
Meu desejo atual é que tenha a iniciativa de um diálogo mais abstrato (que não tenha como finalidade apenas atender a uma necessidade atual) e que relate fatos ocorridos. Parece que estamos passando por uma fase de transição.
 
Fecho o parêntese.
 
É óbvio que aproveitei a disposição dela para a resenha para conversar, apertar, encher de beijo e brincar. E como foi divertida a brincadeira!
 
Eu dizia que ia fazer um ataque de cócegas, ela se encolhia toda, sorrindo e esperando as cócegas, me derrubando no final, para se liberar, depois do que eu, ao cair no chão, fazia uma mega encenação que tirava dela gargalhadas intermináveis. A brincadeira se repetiu diversas vezes. Numa vez, me fingi de morta e disse que precisava de um beijo para voltar a viver, como a Branca de Neve. Ela me ignorou e saiu do quarto. Continuei imóvel. Quando ela voltou e me viu na mesma posição, disse "mamãe está muito morrida...", correu e me deu um beijo.
 
Várias outras brincadeiras se sucederam, o que, por ser muito raro com minha pequena, deu àquele momento um quê pra lá de especial.
 
Como Mateus quis ir para a casa da avó e Lipe ainda dormia, resolvemos ir à Barra, fazer nossa caminhada matinal com Leti lá.
 
Ela, como sempre, apresentou uma resistência inicial, mas logo cedeu, demonstrando que, sim, aquele era um passeio possível para ser feito por nós três: eu, ela e o papai.
 
E como foi delicioso caminhar com ela pela Barra! O dia estava lindo, o sol quente na medida certa, a ocupação agradável, sem causar tumultos, as belas paisagens naturais nos cercando por todos os lados.
 
Ela ainda demonstra uma certa insegurança em caminhar sozinha pelas calçadas, mesmo onde o piso é liso, e isso nos deixa um pouco intrigados, já que ela caminha bem em ambientes fechados. E, cada vez que precisava parar para tirar uma foto, por exemplo, se agarrava a nosso corpo, parecendo ter medo de cair.
 
Mas isso não tornou o passeio pesado. Pelo contrário. Nos permitiu experimentar estratégias para tentar ajudá-la a lidar com o medo.
 
Ao final, conseguimos manter uma hora de caminhada (o dobro do que fazemos em nosso condomínio), que serviu para cuidar da saúde física e mental de nós três. Foi uma deliciosa manhã de inverno.
 
 

 
 
O meu desejo para a tarde era dar um passeio pelo Pelourinho. Estava doida para conferir a decoração de São João.
 
Leti não quis ir, o que já era esperado; Mateus, na casa da avó, pediu que fôssemos buscá-lo para que pudesse ir concosco, e Lipe também topou a programação.
 
Quando fomos buscar Mateus, deixamos Leti - muito animada, inclusive - na casa da avó, e fomos dar uma olhadinha no Pelô.
 
Não chegamos a ver nenhuma apresentação junina. A ideia era apenas conferir a decoração junina e caminhar sem pressa, por onde desse vontade, coisa que não conseguimos fazer quando Leti está conosco, por conta das suas limitações.
 
A decoração, como eu imaginava, estava linda!
 
 
 
Aproveitamos para desbravar a parte do Pelô que vai dar no Carmo, e que ainda não conhecíamos (apesar de termos jantado uma vez no Pestana, mas parando o carro lá pertinho) por que exige uma caminhada considerável por uma ladeira.
 
O passeio nos reservava uma grata surpresa!
 
É bem verdade que sou suspeita para falar das belezas do Pelourinho, porque me encanto por cada pedacinho daquele lugar.
 
Mas passamos por casinhas diferentes, igrejas diferente, estabelecimentos diferentes, cada um com sua graça.
 
 
No caminho nos deparamos por uma longa escadaria que abrigava, em seu topo, um pequeno vira lata e é óbvio que Mateus quis subir cada degrau para ver o que o cachorrinho fazia lá em cima.
 


De lá seguimos nossa despretensiosa caminhada. O objetivo era simplesmente ver, conhecer as redondezas, sem qualquer intenção específica mas, como era hora do lanche, assim que avistou um Café, Samir sugeriu que fizéssemos uma parada.
 
Bendita parada!
 
A fachada do Cafelier, apesar de charmosíssima, pouco fala da singeleza do seu glamour (se é que isso é possível). A decoração rústica, com seus objetos clássicos, passando pela simpatia do dono do estabelecimento, que tomava seu café antessala de espera, enquanto um Garfield gato descansava preguiçosamente na mesa de jantar ao lado, são poucos se comparados à decoração do ambiente que atravessa o corredor, nos brindando, ainda, com uma linda vista da Baía de Todos os Santos. A bailarina pendurada no teto é linda! Os quadros são lindos! As cadeiras de ferro azul são lindas! As flores cor de lavanda são lindas... É tudo lindo demais por ali... O lanchinho é bom e o atendimento muito atencioso! Foi, sem dúvida, uma grande descoberta! É daqueles lugares que dá vontade de voltar para escarafunchar cada cantinho...
 
 
 





 

De lá ainda subimos mais um pouco para ver o Plano Inclinado, na esperança que estivesse aberto. Mas não estava. Descobri agora que não abre aos domingos.



A esta altura, eu ainda estava com meu instinto explorador aguçadíssimo, mas meus meninos davam sinais de fadiga. Resolvemos, então voltar.

No retorno, ainda paramos em frente à igreja onde tirei a foto do meu convite de formatura para um registro e no Largo da Casa de Jorge Amado para outros cliques.


 
Voltamos leves e felizes, sentindo o incremento de uma cumplicidade sem que qualquer palavra precisasse ser dita.
 
E para fechar o dia com chave de ouro, tivemos a visita festejadíssima de meus pais com quem, juntos, pudemos viver mais deliciosos momentos em família.
 
 
 
 
Este foi, de fato, daqueles dias em que o revezamento cumpre, com honras, o seu papel!

3 comentários:

Lídia Costa disse...

Jana, na próxima ida a Santo Antônio dê uma passada na pousada santo antônio(na rua direita de santo antônio mesmo).
Apesar de a minha última ida não ter sido das melhores, e achar que o atendimento não é mais tão bom, ainda insisto em dar uma chance e indicar. Tem uma vista linda, assim como o Cafelier, porém acho mais amplo, precisando de menos esforço para garantir um bom lugar com uma excelente vista.
No mais, sempre acompanho suas postagens, e tenho que dizer que a admiro bastante pelas múltiplas funções que ocupa.
Saudades da pequena!
Beijos e até uma próxima!!

Andréia Paiva disse...

Adorei cada letrinha do seu relato! Pelo dia feliz com Leti à dica turística, que planejo seguir à risca! Rs. Beijo!

Mônica Loiola disse...

Sempre digo que sua disposição e criatividade são admiráveis rsr. Você aprendendo com eles e nós com você. Adorei o texto!

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