quarta-feira, 20 de outubro de 2010

FLOORTIME

Começo a escrever este post da sala de embarque do Aeroporto de Recife, aonde cheguei na sexta-feira (08/10/10), para participar de um Workshop de DIR/Floortime, ministrado pela Mestre em Educação Especial Patrícia Piacentini.

É uma característica minha, e não sei de todas as “mães especiais”, oscilar entre momentos de acomodação e outros de grande inquietação quanto à busca por novidades em relação à questão do neuro-desenvolvimento.

Meio envolta neste sentimento de inquietação, tenho-me visto curiosa a aprender um pouco mais sobre floortime, integração sensorial, son-rise, conceitos até pouco tempo completamente desconhecidos por mim.

Assim, dentro deste contexto, logo que soube que haveria este evento em Recife, que teria como público alvo pais e terapeutas, para discutir o Floortime, decidi na mesma hora que me faria presente, ainda que não fizesse a menor ideia do que seria esta técnica.

Volto para Salvador tomada por um sentimento de grande satisfação.

Não que acredite que o floortime seja a solução para todos os problemas da minha filha, mas por ter tido a oportunidade de discutir maneiras de melhor estimulá-la através da brincadeira, de fazer o reconhecimento de sinais de desregulação em crianças autistas (embora ela não tenha diagnóstico fechado no autismo), por ter conhecido profissionais atuantes na área e, principalmente, por ter compartilhado um pouco das sensações que norteiam famílias que se encontram na mesma situação que a minha.

O DIR/Floortime busca a aplicação de conhecimentos interdisciplinares ao mundo do autismo, com a finalidade de sustentar a ideia da individualização no tratamento do transtorno invasivo e nas disfunções sensoriais.

O trabalho através do DIR/Floortime é focado a partir de três aspectos: 1. O estágio do desenvolvimento em que cada criança se encontra (D); 2. O modo individualizado desta criança processar as informações sensoriais (I); e 3. A importância das relações que esta criança estabelece com seus pais (R).

Em relação ao aspecto do Desenvolvimento, distinguem-se seis níveis que são escalonados da maneira referida abaixo, de acordo com a idade da criança:

1)   Interesse pelo Mundo, que corresponde à busca espontânea pelos estímulos do mundo ao redor;
2)   Vínculo Afetivo, como a habilidade da criança se relacionar com diferentes pessoas;
3)   Círculos de Comunicação, caracterizada pela capacidade de estabelecer uma forma de comunicação (ainda que não verbal) com as pessoas que a cercam;
4)   Resolução de Problemas, que corresponde à habilidade da criança criar gestos mais complexos, segurando uma série de ações dentro de uma construção de ideias elaboradas e auto controle no comportamento, ajudando a solucionar problemas;
5)   Criação de Ideias, como a possibilidade de expressar-se ao mesmo tempo através do imaginário e do concreto; e
6)   Construção de Pontes entre Ideias no sentido da habilidade de estabelecer uma conexão lógica no meio das ideias.

Segundo os teóricos do DIR/Floortime, é necessário que a criança garanta bem cada nível do desenvolvimento, para poder subir um degrau para o nível seguinte.

Quanto ao “I”, que representa as diferenças individuais de cada criança, trata-se principalmente da maneira como a criança recebe, processa e integra as informações sensoriais.

Em relação ao processamento sensorial, a abordagem enfatiza três aspectos:

1)      Dificuldades de modulação: onde a criança percebe os estímulos com muita ou pouca intensidade;
2)      Dificuldades no processamento: quando a criança recebe as informações sensoriais, porém apresenta dificuldades em processar e organizar. Ex: dificuldade de processar dois sentidos ao mesmo tempo, de perceber um som principal e um de fundo;
3)      Dificuldades no planejamento motor: ou seja, para planejar e executar movimentos corporais.

Neste ponto, faz-se muito importante a avaliação do perfil sensorial da criança, e saber, por exemplo, que tipo de estímulo a deixa alegre e quais lhe desagradam. A observação cuidadosa permitirá deduzir seu nível de sensibilidade a cada um dos sentidos, para que se passe a trabalhar de maneira a estimular conjuntamente o sentido que tem um processamento melhor com aquele que precise de um ajuste.

Na tabela abaixo, extraída do livro “Brincar é Desenvolver: Um caminho para o Mundo do Autismo”, pode-se ver comportamentos desagradáveis da criança e sugestões de como lidar nas referidas situações.

COMPORTAMENTO
ESTÍMULO SENSORIAL
IDEIAS DE TRATAMENTO
Bater a cabeça (estapear, esmurrar)
Proprioceptivo, vibração, linear, vestibular, pressão profunda – tátil
Compressão das articulações
Mini trampolim
Colete de peso
Balanceio
Linear – vestibular
Propriocepção
Sentar e brincar na bola
Tábua de equilíbrio
Ranger os dentes,
morder, pôr objetos na boca
Propriocepçao – vibração
Escova NUK, mini massageador, comidas que precisam ser muito mastigadas, mordedor de borracha
Pular, sacudir as extremidades, agitar as mãos
Vestibular- oscilação
Propriocepção, vibração Integração visual – vestibular
Mini trampolim
Trabalho pesado (empurrar, puxar, cair)
Alvo visual
Rodar objetos (outros objetos que se movem)
Vestibular – rotatório
Visual
Disco de flexão
Balanço de pneu
Senta e roda
Prender a respiração
Propriocepção
Vibração
Mini massageador
Apito de sirene
Soprar em Theraband
Cheirar
Olfatório, tátil, gustativo
Sabores e cheiros fortes


O livro referido traz, ainda, opções de atividades associadas a comportamentos “agradáveis” da criança e intervenções para melhorar seu nível de alerta (são duas tabelinhas maravilhosas, cuja leitura vale à pena!).

O “R” do programa diz respeito à relação que a criança estabelece com a família. Restando claro que é a família que presta o suporte para a criança durante a maior parte do tempo, busca-se uma ampliação da integração família-terapeutas, no intuito de melhor capacitar esta família para promover uma adequada estimulação da criança, e, por conseqüência, assegurar o êxito do programa.

É neste momento que se fala mais precisamente do floortime, como “tempo de chão”, no sentido de oportunizar pelo menos 20 minutos diários dos pais com a criança, no chão, brincando, com atividades direcionadas e orientadas pelos terapeutas para estimular os aspectos da criança que precisam se trabalhados.

Enfim, o programa integra profissionais de diversas áreas que, juntamente com a família, traçam um perfil da criança, para descobrir que aspectos precisam ser considerados no momento da elaboração do plano de ação individualizado que norteará o trabalho a ser realizado, normalmente por um período mínimo de dois anos.

Este é um pequeno resumo do que seja, na minha percepção, de acordo com o que vi no Workshop realizado em Recife e no livrinho que mencionei, o DIR/Floortime.

Quem quiser saber um pouco mais, pode consultar:

Ø      Brincar é Desenvolver: Um caminho para o mundo do autismo”, de Ariela Goldstein, Dawn Capelli e Patrícia Piacentini;
Ø      “Engaging Autism. Using the Floortime Approach to Help Children Relate Communnicate and Think”, de Stanley Greenspan;
Ø      www. floortimebrasil.blogspot.com
Ø      www.toi.med.br
Ø      www.icdl.com



4 comentários:

Mariana - viciados em colo disse...

Oi,
Obrigada pela visita e pelo comentário...
Profissional é este post que acabo de ler! Li até o fim mesmo não tendo "interesse direto" (tudo me interessa!) pelo assunto... Você está começando muito bem o seu blog...

Sua filha é linda!!! Muito fofa...

Conheço Ana e Samira, fizeram faculdade comigo. Somos muito muito amigas. Ivana deixou um comentário lá no blog dizendo que chegou lá por causa de uma indicação aqui... Fui ver e era num comentário de Ana. Ana sempre falou muito de você - estudaram juntas no colégio, né? Por isso essa sensação de parecer que te conheço.

Perguntei sobre escola, pois acho que o convívio com outras crianças ajuda muito. Adoro a Gira Girou - era a opção para colocar meu bebê, mas eles não tinham vaga. Uma grande amiga tem a filha lá no integral (Nina Gobbo - 2 anos - conhece?).

Minha filha estuda pertinho - na Lua Nova. Você conhece? Eles tem um trabalho fantástico, muito individualizado e adequado às características e necessidades da criança...


Espero te ver mais vezes por lá... Estarei sempre por aqui... Nem sempre comento, porque corro demais... Mas passarei sempre para saber as evoluções.

Beijoca

Unknown disse...

Jana, verdadeira aula de amor! Você é demais!

Bjos na princesa!

Ivana

Erika disse...

Essa é a minha amiga exemplo: de força, coragem, determinação, amor, companherismo e pricipalmente de mãe.
Ficou execelente o post sobre floortime, deu para aprender um bocado.
continue o blog!!!!
te amo

CRIS disse...

Olá, meu nome é Cristiane adorei visitar o seu blog, tenho um lindo filho de 6 anos dentro do espectro e ele faz terapia na clínica da Patrícia Piacentim em Recife -PE moro no interior em Goiana-PE e duas vezes na semana ele vai a Recife. Abraços Cris

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