sábado, 31 de março de 2012

O que te move?

Nunca fui muito engajada em movimento social algum. Sou o tipo de cidadã passiva. Leio, estudo, posso ter uma opinião formada sobre determinado assunto palpitante, posso discuti-lo numa roda de amigos, mas dificilmente irei para as ruas defender um posicionamento. É vergonhoso, reconheço. Mas é verdade. Sou assim. Não sei se por genética, se por criação, se por falta de convívio em ambientes mais potilizantes... Nunca fui envolvida em grêmios, diretórios acadêmicos, partidos políticos... Nem para as assembleias da minha associação profissional, para reivindicar por melhores condições de trabalho e melhores salários, eu vou. Já até tentei, mas me senti tão inexpressiva que desisti. Um erro, eu sei. Poderia tentar me fazer ouvir. Me esforçar para ser expressiva, mas sempre acabo priorizando as necessidades mais urgentes, que precisam ter uma resposta imediata.

Pela primeira vez, me sinto motivada a participar de um movimento. Um movimento pela conscientização do autismo.

No dia 2 de abril, meu aniversário, é comemorado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Neste dia, instituições de todo o país estarão aproveitando para trazer o assunto à pauta, para reivindicar por políticas sociais que assegurem o direito dos autistas, para lutar contra o preconceito, para desmistificar a visão distorcida que se tem do autista.

Infelizmente, em nosso país ainda não existem políticas públicas efetivas que assegurem os direitos dos autistas. Infelizmente, não há atendimento público de qualidade para crianças, jovens e adultos autistas. Infelizmente, muitos casos de autismo sequer são diagnosticados, dificultando uma intervenção que possa promover uma melhora na qualidade de vida do autista. E, mesmo com tantos casos ainda não diagnosticados, as estatísticas insistem em mostrar que o número de pessoas dentro do espectro autista  aumenta a cada dia.

Até Leti ter uma suspeita de autismo (que até hoje não foi confirmada), a única referência que eu tinha sobre o assunto era a de Dustin Hoffman, no filme Rain Man.

O autista, para mim, era aquela pessoa introspectiva, ecolálica (hoje sei que esse é o termo correto para o diálogo consistente em repetições descontextualizadas), antisocial e com habilidades intelectuais fora do normal.

Mas o autismo tem diversas nuances. Pode se manifestar desde sempre. Ou pode ser detectado apenas depois de uma determinada idade. Pode vir associado a um retardo mental. Ou a uma inteligência destacada. Pode trazer, ou não, uma limitação motora. Pode comprometer, em graus diferentes, a habilidade de comunicação. Normalmente acarreta dificuldade na interação social. Muitas vezes se associa a estereotipias e interesses inadequados a alguns objetos.

O autismo está em todos os lugares. Ele não tem cara. Quem olha para minha pequena, não diz que ela é autista. Principalmente se não souber sua idade. Ela aparenta ser apenas uma criança mais nova. E é assim com muitas pessoas. Você, como eu, pode se surpreender, descobrindo que mais pessoas do que imagina, do seu convívio, podem estar dentro do espectro autista.

E estas pessoas podem ter um melhor prognóstico se viverem num meio de pessoas sem preconceito, se puderem ser estimuladas desde cedo, se tiverem capacidade de contar com um atendimento de qualidade, se vivenciarem um processo sério de inclusão... É isso que desejo! E esse desejo me move, me motiva. É ele que me levará amanhã, junto com meu marido, e meus dois filhos mais velhos, para o Farol da Barra, para uma caminhada promovida pela AMA/BA, às 9h, para tentar chamar atenção da sociedade para essa sensível questão, que ainda se mostra tão enigmática, quando não desconhecida, às pessoas.

 Vamos lá?



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