quarta-feira, 25 de julho de 2018

Com as Crianças no Museu: Pierre Verger e Carybé

Dando sequência à série de postagens sobre os museus de Salvador, falarei um pouquinho hoje de dois museus relativamente novos na cidade, que oferecem, além de um maravilhoso acervo, uma localização privilegiadíssima: o Espaço Pierre Verger de Fotografia Baiana e o Espaço Carybé de Artes.
 
Os museus estão localizados, respectivamente, nos Fortes Santa Maria e São Diogo, na Barra, homenageiam artistas estrangeiros que se "abaianaram" e podem ser visitados mediante o pagamento de um único ingresso, o qual é gratuito nos dias de quarta feira.
 
Certamente por conta da ampla publicidade que envolveu a inauguração dos espaços há pouco mais de dois anos, eles não são daqueles desconhecidos pela população, de forma que acredito não trazer qualquer novidade no post, cujo objetivo é simplesmente compartilhar a nossa experiência e instigar o desejo de levar as crianças que ainda não os conhecem a conhecê-los.
 
Visitei ambos os museus em março de 2017, no dia 08 e no dia 15 (duas quartas feiras), a primeira vez com Mateus e a segunda, com Lipe. Ainda não levei Leti (embora esteja nos meus planos).
 
Nas duas vezes começamos o passeio pelo espaço de Verger e finalizamos no de Carybé.
 
Conhecemos o trabalho de Pierre Verger dois anos antes, em 2015, quando visitamos uma diversificada exposição no Museu de Arte Moderna, na Avenida Contorno, que trazia fotografias de suas viagens pelo mundo. As fotos e suas ricas legendas prenderam minha atenção e a de Lipe, enquanto a areia que cobria todo o piso do espaço foi o foco da diversão de Mateus. (Leti fez uma visita mais dinâmica com o papai, como acaba acontecendo na maioria dos nossos passeios, já que seu tempo de atenção é mais curto). Conhecer um pouco do trabalho do artista ali exposto foi, sem dúvida, o que acendeu o meu desejo de conhecer o Espaço Pierre Verger de Fotografia Baiana, que contempla também fotografias de outros artistas.
 


 
 
O espaço de Verger é pequeno e aconchegante e tem como objetivo "apresentar a fotografia como uma ferramenta a diversos fins: arte, suporte de memória, ferramenta antropológica ou objeto de posse familiar/pessoal".
 
Segundo o site da Fundação, a "exposição não é uma mostra que destaca individualmente a obra de diversos fotógrafos, mas que propõe uma leitura da fotografia baiana onde fotos de diversos fotógrafos, de diversas épocas, são colocadas lado a lado para que se possa estabelecer uma visão geral do que foi feito na Bahia seguindo os passos de Verger."
 
Para poder aproveitar o espaço de forma otimizada, foram utilizados recursos tecnológicos (projeções, telas interativas e técnica de realidade virtual) que permitem a ampliação do acervo e a possibilidade de se vivenciar experiências diferentes em momentos diferentes, além de tornar a visita muito mais atrativa ao público infanto-juvenil.
 
A visita é válida para conhecer um lado da Bahia que a maioria das nossas crianças não conhece, para exercitar a empatia, para apurar a sensibilidade do olhar... Neste museu, sob o meu ponto de vista extremamente kids friendly, há espaço para a curiosidade, para o conhecimento, para a desaceleração, para a contemplação. E, por que não, para a diversão?
 
 
 






 
 
O Espaço Carybé de Arte tem uma proposta similar, fazendo uso também de recursos tecnológicos para disponibilizar a ampliação do acervo e a diversidade da visita, impressionando por suas cores, tão típicas do artista.
 
Segundo matéria divulgada no GShow, "os idealizadores apostam na tecnologia para criar uma exposição personalizada, na qual o espectador escolhe os trabalhos que mais lhe interessam. É possível ver ilustrações feitas para livros através de totens. Um desenho feito por Carybé foi transformado em avatar e ganha movimentos a partir da interação com as pessoas".
 
A visita pode ser extremamente lúdica e interessante, enquanto damos movimento a um quadro, simulamos a pintura de um outro ou viajamos em diferentes imagens projetadas nas paredes, familiarizando as crianças com as obras tão cheias de personalidade de Carybé.
 
Para os maiores, há, ainda, a oportunidade de mergulhar mais fundo na vida e obra dos artistas, através das informações ali disponibilizadas.
 
 


 
E se tudo isso não for suficiente para acender um desejozinho de conhecer os espaços, vale lembrar que a vista que se tem de lá é simplesmente fantástica!
 






 
 
 
Se animou para ir? Lembre-se que eles estão fechados às terças-feiras, que o ingresso custa 20 reais e que nas quartas é grátis! Vão e aproveitem!
 
Links dos demais posts da série "Com as Crianças no Museu:
 
 

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Com as Crianças no Museu: Introdução e Museu da Energia da Coelba

Museu é lugar para criança? SIM. Definitivamente, SIM. É bem verdade que minha mãe não pensava da mesma forma (até hoje ela diz que meus filhos conhecem mais museus que ela)e, por isso, a Janaína criança não teve oportunidade de aproveitar a infinidade de experiências que uma visita a um museu pode proporcionar . Mas depois de descobrir que uma visita a um museu poderia ser extremamente interessante e prazerosa para mim, quis que meus filhos pudessem usufruir desta experiência desde pequenos.
 
Antes de mais nada, preciso confessar que não sou conhecedora de arte. Sou curiosa apenas. Gosto de museus de arte pela beleza e pelas sensações que provocam em mim: de deleite e de desejo de saber sempre um pouco mais. Mas nunca tive oportunidade de me aprofundar, embora tivesse vontade, no estudo da História da Arte e tudo que move as minhas visitas é meramente intuitivo.
 
Assim, minha finalidade com as crianças também não é torná-las conhecedoras de arte, mas aproximá-las daquele ambiente e auxiliar na construção de memórias afetivas que fomentem o desejo de seguirem explorando este amplo e rico universo que nos permite aprender através dos sentidos.
 
Para isso, a principal premissa de que parto antes de qualquer visita é a de que o passeio tem de ser leve e divertido, respeitando o tempo de atenção e o limite de interesse de cada um.
 
Desta forma, para tentar assegurar o sucesso do passeio, a primeira coisa que avalio é se o acervo do museu (de arte ou não) pode despertar o interesse dos meus filhotes; de todos ou de apenas um ou alguns deles. Não foram poucas as vezes em que fiz visitas distintas ao mesmo museu para poder levar as crianças separadamente e explorá-lo de maneira que fosse mais adequada a cada um. Aconteceu com o da Misericórdia, com o Geológico, com o de Pierre Verger e de Carybé, com o Palacete das Artes...
 
Entendendo que o acervo possa despertar o interesse dos pequenos, dispo-me da expectativa de que as crianças têm de explorar tudo o que o museu oferece e preparo-me para, eventualmente, frustrar MINHA vontade de ver algo a mais ali disponível, seguindo para o museu com o desejo de que saiam dali mais felizes do que entraram e com a convicção de que estarão culturalmente mais enriquecidos, ainda que não façam a menor ideia do que isso possa significar.

Percebendo que a presença de crianças nos museus em Salvador não é uma prática corriqueira como vejo em outras cidades, e atendendo a sugestões de algumas amigas, resolvi fazer uma série de postagens aqui no blog para compartilhar nossas visitas aos museus de Salvador (e talvez alguns fora da cidade também), e para ajudar na divulgação destes espaços que, infelizmente, não possuem o protagonismo na agenda cultural da nossa cidade que mereciam.

Por se tratar da visita mais recente, começo com o Museu de Eletricidade da Coelba.

 

Apesar de já ter passado por sua frente infinitas vezes, em visitas ao Pelourinho, não sabia que aquele imóvel com a placa da Coelba, atrás da linda fonte que diversas vezes nos distraiu, abrigava um local tão rico!

Depois da visita de uma amiga querida, resolvi colocar o local na nossa agenda e na semana passada, finalmente, conseguimos fazer uma visita.

O Museu fica na Praça da Sé, funciona de segunda a sábado e tem entrada gratuita.

O espaço é todo interativo e funciona com visita guiada o que, para mim, é um grande diferencial.

Segundo o site Aulas de Eenergia, "O Museu da Energia é um espaço criado para que os visitantes tenham a oportunidade de conhecer os princípios da eletricidade e suas aplicações, além de aprender métodos eficientes de economia de energia. Localizado no primeiro andar do prédio histórico da Coelba na Praça da Sé, em Salvador, o espaço tem como proposta fazer com que o público conheça a história da eletricidade, por meio do uso de experimentos científicos, com painéis, monitores e linguagens adaptadas às mais diversas faixas etárias, além de disseminar informações sobre a importância de se utilizar a energia elétrica de forma correta, eficiente e segura".

O prédio possui cerca de 50 experimentos divididos por temas: Conversão de Energia; Eficiência Energética; Eletromagnetismo; Eletrostática; Geração de Energia; Óptica e Transmissão de Energia.

Visitamos o Museu com Mateus, Leti e meus dois sobrinhos-afilhados, filhos da minha irmã; além de Samir e Binha, minha irmã.

Como costumamos fazer quando saímos com os dois mais novos, eu e Samir nos dividimos no esquema de um para um, para poder conciliar a empolgação elevada à enésima potência de Mateus com o binômio curiosidade-desconfiança de Leti.

Como são muitos os experimentos, e alguns deles têm o mesmo propósito, o instrutor elege alguns, explica seus fundamentos e propõe a atividade: produzir energia com força, desafiar a eletromagnética, entender a resistência...

Os meninos se divertiram horrores e, terminada a visita, continuaram lá até quase a hora do fechamento, explorando tudo o que podiam.









Leti ficou receosa e, apesar da paciência do instrutor e de todas as investidas para incluí-la nas atividades, ela não se dispôs a experimentá-las na prática (à exceção do desenho com luz na câmara escura, que ela amou), embora tenha observado com atenção suas explicações.

Finda a visita, devo dizer que minhas expectativas foram superadas! Achei a proposta do espaço semelhante a do Museu Catavento em São Paulo, guardadas, obviamente, as devidas proporções.

Minhas impressões: a vista para a Baía de Todos os Santos é impagável; os experimentos são super interessantes ao público infantil; o prédio tem o seu charme; nosso instrutor, além de muito capacitado e assenhorado do seu papel, tinha uma sensibilidade peculiar para falar com os pequenos, procurando usar um vocabulário acessível, abaixar-se à altura das crianças para ser melhor compreendido e comunicar-se de maneira afetiva.





 
Posso dizer que aprendi e reaprendi algumas coisas e que meus filhos e afilhados, além de aprenderem, na medida da maturidade de cada um, tiveram uma tarde para lá de divertida.

Missão cumprida!

 
 
 
 
 
 
 

 Links dos demais posts da série "Com as Crianças no Museu:
 
Espaço Pierre Verger de Fotografia Baiana e Espaço Carybé de Arte
Museu da Moeda

domingo, 8 de julho de 2018

Na paz do seu sorriso, meu sonho realizo...

Lá se foram o primeiro semestre letivo e as férias do meio do ano. E amanhã a vida retoma sua rotina, com o retorno das aulas das crianças.
 
A sensação que me invade é de paz. Como se, finalmente, o furacão que rondava a minha casa, a minha vida, tivesse se dissipado para longe. Definitivamente! No mais longínquo, ainda que não eterno, significado que a expressão possa ter. Pelo menos assim espero.
 
Sem qualquer sombra de dúvida, o primeiro semestre de 2018 foi, senão mais difícil, umas das mais difíceis fases que vivi em relação a Leti. Ou talvez outras semelhantes tenham se apagado da minha memória unicamente em virtude do passar do tempo. Vai saber...
 
Desde o início do ano, quando tivemos consulta com uma psiquiatra em Salvador que já tinha acompanhado Leti tempos atrás, vivíamos uma saga para tentar chegar à dose exata da medicação que pudesse dar resposta a alguns aspectos que nos preocupavam àquela época: o sono péssimo, a compulsão alimentar, os medos generalizados e as autolesões.
 
Naquela época, Leti tomava duas medicações e a médica sugeriu incluir uma terceira, de forma gradativa, até chegarmos à dosagem ideal, imaginando dar uma melhora em seu quadro geral.
 
Logo depois de incluirmos a 3a medicação, suspendemos a que tomava para controle da compulsão alimentar e que não estava dando resposta, voltando, então, ao uso duas medicações.
 
O fato é que, embora depois de aproximadamente dois meses da mudança, Leti tenha apresentado excelentes resultados em relação às autolesões, à compulsão e aos medos, dando uma ampliada significativa na sua forma de comunicação e no interesse por coisas que já há muito não lhe interessavam, passado este breve período, ela teve uma piora acentuadíssima!
 
A sensação que nos dava era que a atividade cerebral dela estava a mil por hora e que ela precisava se ligar no 220w para dar conta de toda informação que recebia.
 
Ela não parava quieta! Andava de um lado para o outro em casa o dia inteiro, não dormia, não se concentrava em ABSOLUTAMENTE NADA! Nem a TV e os livros de história, que costumavam lhe entreter, seguravam sua atenção por mais de cinco minutos. Passou a apresentar atitudes inadequadas que já não tinha, como mexer em vaso sanitário, jogar coisas pela janela, quebrar conscientemente objetos... Num breve período de tempo, quebrou o notebook de Samir, o meu, o celular da casa que ela usava para ver vídeos e outras coisas menores. E fazia pouco caso quando lhe chamávamos atenção, como se não conseguisse compreender a seriedade dos atos. (E ela já conseguia compreender certo e errado e as repreensões que eventualmente aplicávamos).
 
Por todo o primeiro semestre, não conseguiu assistir a um filme inteiro no cinema ou um espetáculo no teatro, atividades que sempre a divertiram muito.
 
As autolesões deram lugar às lesões ao próximo. Passou a morder e beliscar muito quem estava por perto. Às vezes para demonstrar descontentamento, às vezes por mero deleite.
 
Passei um período com os braços cheios de cicatrizes dos beliscões que ela me dava.
 
Na escola, sua concentração estava nula! Não aceitava ficar por muito tempo na sala, não sentava para fazer atividades, se desinteressou pela biblioteca, machucava sua monitora...
 
À medida que íamos mexendo na dosagem da medicação, íamos percebendo as mudanças.
 
Passou por um longo período com uma hiperatividade exacerbada, algum incomum, já que ela sempre teve tendência à hipoatividade, e muito tagarela. Depois, a hiperatividade se fez acompanhar da reversão da melhora comunicativa. Em seguida, passou por um breve período de comportamento letárgico.
 
Curiosamente, no ápice da sua hiperatividade, a compulsão alimentar esteve mais controlada e, em TODO o período, desde o início, as autolesões desapareceram!
 
Como se não bastasse, no dia do seu aniversário, ela começou a apresentar mostras de um problema ortopédico que nos preocupou.
 
Começou mancando, depois com dificuldade para se levantar e abaixar, depois para andar. E dores. Quando as dores atingiram um patamar insuportável, apelamos novamente para a emergência e, ante a necessidade de se submeter a uma ressonância, ela acabou precisando ficar internada (por um dia e meio)
 
Aquela hiperatividade deu lugar a um esmorecimento desolador!
 
Que tristeza ver minha filha, que tem um limiar tão alto para dor, reclamar de dor a ponto de ficar imóvel, por medo de se mexer.
 
Com a alta médica, veio o alívio da dor e um norte para o tratamento efetivo das suas causas, ante o diagnóstico apresentado pela ressonância. A próxima etapa é a consulta com um reumatologista, que está marcada para o próximo dia 12.

Passada a fase crônica vislumbro uma Letícia, finalmente, mais plena.

Retomou o interesse pela leitura, e os livros de Cachinhos Dourados e Chapeuzinho Vermelho, em suas múltiplas versões, assumem um protagonismo nos momentos do seu dia a dia; parece ter atingido um ponto de equilíbrio  nos comportamentos cotidianos; parou de machucar as pessoas (os beliscões, quando aparecem, são muito raros), está mais comunicativa, mais engraçada e apaixonante, como costuma ser; parou de quebrar coisas e de apresentar inadequações de entendimento; está mais carinhosa, demandando nossa atenção de maneira correta, mais sorridente, mais compreensiva.
 
Sinto que tirei um peso enorme dos ombros. Passamos meses em que não podíamos nos descuidar dela por um segundo, com medo do que poderia acontecer. Escapou de ser cortada algumas vezes, ao quebrar taças de vidro expostas na sala. Fugiu de casa e foi encontrada na escada do 8º andar do nosso prédio; jogou o celular de Lipe pela janela, que foi salvo pela tela de proteção.
 
E não dormia. Nos levava a exaustão porque além de não dormir, não nos deixava dormir também. E era exatamente nestes momentos, quando o cansaço comprometia nossa paciência, que ela ficava ainda mais agressiva conosco. Por vários dias me vi, enquanto dirigia para o trabalho de manhã, chorando sozinha de cansaço e de culpa por sentir tantas coisas que não gostaria de sentir.
 
Hoje o cansaço que ela causa é o de ter que ler mil vezes o mesmo livro, que ela atentamente acompanha com um interesse encantador. Mas esse é um cansaço delicioso e que usufruímos com a gratidão de quem passou por momentos absurdamente difíceis.
 
Hoje, depois de muuuito tempo, conseguimos fazer uma programação cultural de fim de semana que ela acompanhasse com interesse e prazer.
 
A sensação de vê-la caminhar pelo chão irregular da área externa do MAM e usar o pincel para pintar a tela presa na parede ou um pedaço de argila para brincar, com um sorriso no rosto, foi indescritível!Contar com sua companhia e disponibilidade para o espetáculo de Carol Levy, em seguida, na Caixa Cultural, foi melhor do que ser sorteada na mega sena.
 
Com o coração leve e tranquilo, e com a convicção de que o amor e o acompanhamento adequado (no caso, preciso ressaltar que sua psiquiatra foi de uma atenção irretocável, sempre disponível no momento que precisamos) sempre trarão bons frutos, sinto que, finalmente, a turbulência do primeiro semestre cede espaço para boas novas.
 


 
 
 
 
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