quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Peripécias da Madrugada. Seria Cômico se não fosse Trágico.

O silêncio sepulcral da noite embalava o meu sono quando, de repente, não mais que de repente, um baque surdo bastante convincente fez-me despertar atônita!

Conhecendo a rotina noturna da minha pequena peralta, e as manias recém adquiridas por ela (ou readquiridas), levantei de um salto, já prevenindo - com um grito desesperado - o marido que continuava a dormir profundamente a meu lado, do que certamente estaria por vir.

Luzes acesas no quarto do meu caçula (que, instintivamente, apaguei, buscando resguardar seu sono que mantinha-se incólume até então) guiaram o meu caminho para a cena que quase reduziu meu coração a pó.

No chão do micro banheiro do meu micro filho, minha pequerrucha gemia de dor deitada de barriga para cima no chão.

Milhões de coisas passaram pela minha cabeça em uma fração de segundos quando, finalmente, tive a reação de pegá-la no colo para levar a sua cama no momento em que o marido já adentrava o quarto para acalentar o caçulinha que, obviamente, acordara assustadíssimo!

Ao colocá-la na cama, uma constatação me preencheu de sentimentos dúbios: a legging que trajava, a qual vestira intacta, estava completamente rasgada na região da virilha. A sensação inicial foi de alívio, por supor que a pancada que originara o som que me acordara provavelmente não atingira a sua cabeça. Depois, só terror, por imaginar que outras consequências a pancada poderia ter produzido no seu corpo.

Até então ela só chorava, um choro sentido, dolorido e, num dado momento, chegou a me pedir um remedinho, o que confirmou as minhas suspeitas quanto às dores que sentia, já que, normalmente, ela é completamente resistente a medicações.

Iniciando o exame de corpo de delito, pude perceber as escoriações na região da sua virilha (muito próximo à vagina), na barriga e na perna. Mas, para nossa sorte, lesões superficiais, que não demandaram, naquele momento, cuidados médicos.

Como ela ainda estava muito nervosa com o ocorrido, buscamos aconchegá-la, acalmá-la até que conseguisse dormir e relaxar. 

{Neste momento preciso abrir um parêntese para explicar porque apenas no último parágrafo usei o verbo na primeira pessoa do plural, quando o vinha usando no singular até então. É que, no auge da tensão, meus dois caçulas resolveram renegar a mãe que vos fala e clamar, aliás, exigir, a presença do pai, que precisou se desdobrar para atender a ambos, enquanto a mãe recolhia as migalhas.}

Mas voltando...

Depois que pegou no sono, não consegui mais dormir e acabei ficando na monitoração do despertador até a hora do primogênito acordar, para preparar o seu café da manhã antes de ir à escola.

Liberado o filho número 1 para a escola, e aproveitando que o número 3 tinha ido dormir com o papai em nossa cama, resolvi partir para a análise da cena do crime.

Ali, as evidências encontradas foram: o espelho completamente decorado com material semelhante a um condicionador de cabelo (no aroma e na textura), um frasco de condicionador no chão, entre a pia e o vaso sanitário, e uma gaveta do armário debaixo da pia aberta. Apesar da minha perspicácia, não consegui fechar uma conclusão com apenas estes elementos.

Então, aproveitando que autora do delito (e vítima ao mesmo tempo), havia acordado mais calma, resolvi levá-la à cena do crime e, utilizando de técnicas refinadas de interrogatório, consegui colher algumas informações.

Mostrando-a o espelho todo empanturrado de condicionador, a uma altura razoável (que ela não alcançaria do chão), perguntei-a:

- Leti, onde você estava quando "pintou" o espelho?
- Em cima da pia!
- Leti, onde você estava quando você caiu?
- Em cima do vaso!

Assim, de posse de todos os elementos coletados, concluí:

Ela abriu a gaveta, pegou o condicionador, subiu no vaso (coisa que tem feito com frequência), e, do vaso, subiu na pia para se deleitar com sua obra de arte. Certamente o condicionador caiu  no chão (lembram que encontrei o frasco no chão, entre a pia e o vaso?) e, para pegá-lo, exercitando o planejamento motor que tem sido estimulado na Ciranda, buscou retornar pelo vaso, para depois chegar ao chão. O problema é que a tampa do vaso (que nunca é usado, já que falamos do banheiro de um bebê que ainda se encontra nas fraldas) estava com um parafuso solto. Então, certamente, a tampa escorregou para o lado, provocando a queda que, sem dúvida, levou-a em direção à gaveta aberta que causou a rasgadura da sua calça e suas escoriações.

De todo o ocorrido, passado o susto, duas importantes constatações:

1) O autor mediato do delito, aliás, co-autores, são todos os terapeutas da Ciranda que vivem insistindo em fomentar esse tal de planejamento motor em minha pequena, que faz com que ela se ache no direito de praticar escaladas em casa;

2) Fechar a conclusão do meu inquérito com as informações colhidas do interrogatório foi a parte luminosa da minha noite tenebrosa. Por muito tempo esperei a chegada do dia em que minha filhota falaria sobre os acontecimentos da sua vida. E, ainda que o contexto tenha sido completamente desfavorável, vivenciar este diálogo foi mágico!

Agora é hora de redobrar o cuidado em casa, afinal, aquela Letícia passiva do passado não existe mais.


3 comentários:

Vaneska disse...

Amiga, esse texto foi pior do que filme de suspense, viu?! Queria filmar a minha cara desesperada lendo!!!
Ai, nem sei o que dizer, rsrsrs, não sei se sofro com a dor física de minha pequena ou se comemoro essa nova Leti que está desabrochando lindamente...
Acho que prefiro comemorar!!! Tá tudo bem mesmo, né, foi só superficial!
Amo vcs, viu!!! Bjos!

Priscila Nascimento disse...

"Gézuis" que foi isso????Susto, tensão, medo...sei lá mais o quê. Leti sua peraltinha, vá com calma nas descobertas e peça sempre ajuda de um adulto porque assim você mata mamãe, papai e as titias de plantão...rs
Jana, será que é válido, na hora de dormir, trancar o banheiro? Se ela tiver vontade de algo terá que chamar por alguém.

bjos e boa sorte!

Priscila - www.maededudueartur.blogspot.com

aprendendoasermae disse...

Jana que susto!que bom que não houve nada mais grave e que mesmo depois desse susto Leti continue sempre a descobrir formas e coisas novas para suas atividades de vida diária.Claro de forma menos perigosa!

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