segunda-feira, 8 de junho de 2015

Fim de Semana Especial - Parte 1

Como disse no post anterior, o fim de semana deu pano pra manga.

Na verdade, acho que tudo começou na sexta, com uma conversa com a psicóloga de Leti. Eu pretendia conversar sobre o uso de um esmalte para tentar fazê-la parar de chupar o dedo, mas como conversa com psicólogo sempre acaba tomando outros rumos, conversamos sobre várias outras coisas.
 
O que me tocou em particular foi uma referência feita a uma característica minha. Nem lembro em que contexto exatamente surgiu, mas ela falou das minhas super programações para as crianças nos fins de semana, sem espaço para imprevistos. A referência foi, na verdade, um convite à reflexão, e não uma crítica em si, mas como eu mesma já vinha pensando a respeito disso há algum tempo (mesmo sem maturar que isso talvez fosse para ocupar 100% do meu tempo), fiquei com a pulga atrás da orelha...
 
De fato, costumo fuçar a internet para procurar a programação infantil do fim de semana e, normalmente, tento me desdobrar para conseguir fazer tudo o que acho valer à pena. Na verdade, na verdade, a meu ver, a programação externa, devidamente triada,  tem duas grandes vantagens: 1) proporcionar uma diversão diferente e de qualidade para a família e; 2) manter a casa arrumada depois da diversão, no fim de semana em que não há secretária em casa.
 
O que Carla pontuava era que, no trabalho de fortalecimento do sujeito com Leti, é preciso dar mais espaço para que ela possa opinar sobre seus pontos de interesse no dia a dia. Inclusive no fim de semana. Uma programação pré-agendada fragiliza um pouco este trabalho.
 
Embora eu não seja tão rígida neste aspecto, já que há espaço para negociação e troca de programação, como na semana passada em que trocamos o Xisto por um momento para fazer um brownie juntos em casa, fiquei pensando em outros aspectos da minha vida, momentos em que fico me enchendo de coisas por fazer. Mas isso é algo para processar com o tempo...
 
De qualquer forma, fiquei com isso martelando o fim de semana todo na cabeça e procurei dar espaço para que meus pequenos decidissem o que queriam fazer. Apenas o teatro de ontem não estava sujeito a barganha, já que os ingressos estavam comprados.
 
No fim das contas, só saímos com as crianças para o Forró do Canela Fina no sábado e para o teatro no domingo.
 
No restante do tempo, ficamos em casa. Descemos para a piscina, lemos livros de histórias, brincamos com blocos, jogos e faz de conta, brincamos com espuma na banheira, vimos desenhos na tv, desenhamos, brincamos de brincadeiras inventadas.
 
E aqui vale uma pausa para esclarecimento.
 
É preciso criatividade para brincar com quem não gosta de brincar. É preciso muita mediação para extrair diversão de uma brincadeira tradicional com Leti. Isso às vezes me frustra, em outras, me mobiliza (como no episódio que contei aqui).
 
E é na tentativa e erro que vou tentando estratégias com a minha pequena.
 
Tudo começou com uma brincadeira que aprendi num desenho da Peppa.
 
Tentando brecar suas estereotipias sonoras no caminho para a escola, lancei a brincadeira: "Eu vejo com meus olhinhos uma coisa azul".
 
Instantaneamente o som repetitivo parou e a resposta veio: "O céu!"
 
Ora, ora, deu corda, então vamos lá!
 
- Um monte de coisa verde.
- As árvores!
 
- Uma coisa branca.
- O carro de mamãe!
 
Neste momento, Mateus também já tinha se inserido na brincadeira e o tempo passou sem que sentíssemos, até a chegada à escola.
 
Num momento posterior, a brincadeira ficou um pouco mais elaborada, apelando para o abstrato:
 
- Eu imagino com meu pensamento um bicho que tem no zoológico.
- Um elefante!
 
- Eu imagino com meu pensamento um desenho que gosto de ver na TV.
- Old Mac Donald.
 
- Eu imagino com meu pensamento um livro que gosto de ler.
- Os três porquinhos.
 
As possibilidades se ampliam em progressão geométrica! E ela embarca a cada nova versão.
 
Quando fica fácil, uma tentativa de aumentar o grau de dificuldade do "eu imagino com meu pensamento": é a hora de inverter os papéis e Leti fazer a charada"
 
Explico qual é a proposta e inicio a frase para ela "eu imagino com meu pensamento..." e ela, que está sempre me surpreendendo, completa: "um bicho que gosta de pular em árvore".
 
- Macaco!
 
A sensação foi de êxtase! Ela entendeu a proposta, pensou previamente a resposta e elaborou a sentença para que eu chegasse até ela. Parece bobagem! Para mim foi como uma admissão para um mestrado rs.
 
O mais gostoso, além de perceber a capacidade cognitiva da minha filhota, é perceber que, através de uma brincadeira simples, pensada por mim, e integrando quem da família estiver junto, ela consegue sair de um movimento estereotipado e se divertir. Sai do 8 ao 80.
 
Recentemente, a brincadeira ganhou nova versão. A brincadeira se chama "O nome do livro é...".
 
A ideia é contar um pedaço da história, sem mencionar o nome do livro, para que ela o adivinhe. Relativamente fácil. De fato! E ela adora o reconhecimento pela sua proeza na brincadeira.
 
Mas depois de bem assimilado o discurso direto da brincadeira, é hora da inversão.
 
Na primeira tentativa, ela lançou "era uma vez três porquinhos...".
 
Fazendo graça, mostrei que ela já tinha me dito o nome do livro e mostrei como poderia ter me contado.
 
Ontem à noite (e por isso estou falando tão detalhadamente da brincadeira, que teve sua culminância ontem, no fim de semana, portanto) ela conseguiu elaborar pela primeira vez a pergunta para o "O nome do livro é...".
 
Foi a sua charada:
- Era uma vez uma princesa que gostava de calçar um sapato de cristal...
 
Algum palpite????
 
Confesso: morri e ressuscitei três vezes!
 
Mas ela não satisfeita, lançou novo desafio: "era uma vez três irmãos que moravam em casa de palha, madeira e tijolos..."
 
Sim, ela entendeu o recado. E entende tudo que se passa a seu redor. Não tenho a menor dúvida! Nossa grande missão é encontrar o jeito certo de despertar seu interesse para mostrar o que sabe.
 

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