domingo, 1 de novembro de 2015

Adolescência Amiga

Se eu fosse fazer uma lista dos grandes acontecimentos em minha vida neste ano de 2015, sem dúvida, o top list seria a mudança da minha relação com Lipe, meu primogênito.

Não que a minha relação com meus outros filhos tenha sido menos importante ou relevante, mas é que com Lipe eu sinto estar conseguindo, finalmente, ingressar num espaço cujo acesso ele ainda não tivesse me franqueado antes.

Falei um pouco do nosso processo em um post anterior (aqui o link) e, passados dois meses do texto, consigo perceber que nossa relação só melhora a cada dia.

E a nebulosa adolescência, que me causava calafrios de pânico, se mostra como uma grande aliada na construção de uma grande amizade com meu filho.

Lipe sempre fez  tipo introspectivo, nunca foi de rir muito, de falar de si. Por outro lado, sempre foi muito conectado com o mundo que o cerca e muito bem relacionado.

Por seis anos foi filho único, sobrinho e neto único (do meu lado da família) e centro de todas as nossas atenções. Não demonstrou nenhuma grande mudança com a chegada de cada um dos irmãos, mantendo os traços que o caracterizavam.

Mas à medida que foi crescendo senti perder um pouco de espaço em sua vida. Os programas conosco já não eram tão interessantes, me dar a mão no shopping podia lhe causar vergonha, conversar comigo sobre suas dúvidas era algo inimaginável. Ele começava a viver um processo normal da adolescência.

Ao mesmo tempo, por conta da imaturidade na escola, por algumas vezes foi trocado de sala, no intuito de enturmá-lo com um grupo mais tranquilo e deixá-lo mais centrado.

Mas não vinha funcionando. Ele reclamava, fazia questão de ressaltar que não gostava da turma, em todos os horários de folga corria para os amigos antigos e não se esforçava o mínimo sequer para qualquer atividade da escola que demandasse envolvimento em grupo.

Mas na terceira unidade a FIC (Feira de Informação e Cultura), projeto desenvolvido pelas turmas de 7a série da escola há 25 anos, exigiu mais dos alunos. Foram muitos ensaios, organização orçamentária, trabalho de divulgação, construção de stands, e, sem dúvida, outras tantas atividades que nem imagino.

O seu papel na FIC era uma grande incógnita para mim e para a equipe de orientação da escola, diante do seu contexto com o grupo, da grandiosidade do projeto e do tanto de envolvimento que demandaria de cada um dos alunos.

Mas no decorrer do processo já comecei a sentir que uma inebriante surpresa estava sendo reservada para nós.

Foi delicioso viver o processo com ele. Sentir seu comprometimento, seu orgulho por perceber que superava as próprias expectativas, sua satisfação por cada etapa vencida, ainda que todo o processo estivesse sendo vivenciado com outra turma, que não a sua galera.

E ele fez questão de me incluir no processo, o que, obviamente, me deixou radiante de felicidade, considerando que isto nunca foi muito comum de acontecer por aqui.

A cada dia, compartilhava a evolução das coreografias, conversava as novidades dos bastidores e até um vídeo com o ensaio completo me mostrou antes do dia da apresentação.

Como Lipe nunca foi muito de compartilhar as experiências vividas na escola em casa, comigo, saboreei cada momento com com um prazer quase voluptuoso!

Eu confesso que já estava plenamente satisfeita com o processo, independentemente de como saísse  o produto final, mas, ao chegar na escola no dia da apresentação e ver seu stand pronto, lindo, e testemunhar a qualidade dos trabalhos das turmas da sétima série, fiquei tão orgulhosa, tão satisfeita, que uma emoção diferente me invadiu.

Restava o clímax! E ele foi ainda mais emocionante!

As turmas trabalharam os clássicos da literatura este ano. Ao longo do ano trabalharam os títulos, fizeram atividades a respeito e agora, no fim do ano, cada turma faria apresentações de dança que significassem suas estórias. Cada turma construiu um stand que representava sua história, decorado por trabalhos de artes de cada aluno, e onde uma pessoa ficava responsável de fazer o resumo da respectiva estória para os visitantes. Parecia coisa de profissional, embora feitos pelos alunos.

O de Lipe foi o Corcunda de Notre Dame.

O stand ficou lindo e a apresentação... PERFEITA!!!

Não consegui conter as lágrimas ao assistir meu filho tão sincronizado numa atividade que até então jamais lhe interessara. Sua performance foi impecável e o conjunto ficou perfeito!

A apresentação simboliza, para mim, sua grande evolução neste final de ano letivo. Seu desprendimento para, finalmente, conseguir trabalhar em grupo e para o grupo e seu prazer para curtir o resultado do trabalho em relação ao qual, inicialmente, não depositava muitas expectativas.

Há muito o que comemorar...
 
 
 

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