segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pensando a Inclusão

No final do ano passado, instigada a entender um pouco mais sobre inclusão, participei de dois eventos realizados em Salvador, para discutir a temática: O Congresso Baiano de Educação Inclusiva e o Simpósio sobre Terapêutica e Inclusão no Autismo.

O Congresso foi um evento mega, que contou com a participação de estudantes e profissionais do Brasil inteiro e se aprofundou na discussão de diversos temas ligados à inclusão em suas diversas facetas.

Na programação do Congresso, foram oferecidos minicursos, de temas diferentes, com duração de 4 horas. Participei do minicurso de Inclusão na Educação Infantil, ministrado pela Pedagoga Mônica Loiola, e, o que aprendi ali, sem dúvida, me deu mais subsídios para acompanhar, junto à escola da minha filha, se realmente a inclusão estava sendo praticada.

O Simpósio foi um evento mais direcionado ao autismo. A sequência para mim foi perfeita, porque primeiro obtive informações gerais sobre inclusão, com indicação de instrumentos normativos aplicáveis e livros interessantes sobre o assunto; e depois tive a oportunidade de ver como a inclusão pode ser feita para auxiliar crianças autistas.

No Congresso, tomei conhecimento da existência do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica e das Diretrizes Nacionais para a Educação Infantil, documentos até então desconhecidos por mim, que nenhuma formação tenho na área de educação.

Entendi um pouco como, em tese, a inclusão deve ser processada nas escolas; com avaliação da criança especial, adaptação curricular, previsão de terminalidade em relação ao currículo previsto para o ciclo, possibilidade de acompanhamento paralelo nas salas de recursos multifuncionais...

A palestrante, didaticamente, tratou das adaptações curriculares, ponto crucial para a realização efetiva da inclusão, em 4 passos:

Passo 1: Conhecer e Sentir - Fase em que se estabelece as prioridades e potencialidades da criança.

Passo 2: Planejar e Escolher - Fase normalmente acompanhada por uma equipe multidisciplinar, em que se definirão metas, escolhendo a maneira e o momento oportuno de usar as metodologias pensadas para aquela criança.

Passo 3: Pensar Recursos - Fase em que se colocará em prática as atividades pensadas para a criança, que auxiliarão o seu desenvolvimento em sala de aula (uso de lápis maior, jogos adaptados, uso de comunicação alternativa...).

Passo 4: Registro e Avaliação - Registro de metas propostas para a criança e das atividades por ela realizadas.

Por fim, elencou o que entende como importante numa escola inclusiva: currículo flexível, centrado no sujeito, foco nas diferentes linguagens, ênfase em valores e procedimentos (e não na intelectualidade), formação do professor e equipe multidisciplinar.

O Simpósio foi direcionado para o autismo, e não se limitou à inclusão escolar, mas também abordou a parte terapêutica, tratando do tratamento biomédico para autistas, dos métodos de intervenção terapêutica existentes, da avaliação neuropsicólogica, dos modelos pedagógicos, além da inclusão escolar e no mercado de trabalho.

A palestra que mais me marcou foi a da representante da AMA.

Depois de falar um pouco sobre a instituição, a presidente da AMA/BA, Rita Valéria, mostrou como são feitas as atividades, para auxiliar a criança nas habilidades que elas precisam, para o acompanhamento escolar. Brincadeiras aparentemente aleatórias, motoras e de encaixe, por exemplo, são idealizadas pensando-se em como poderá ajudar a criança a desenvolver sua motricidade fina e a apurar seu senso espacial (para ajudá-la a escrever num papel, por exemplo).

Jamais cogitaria a possibilidade de colocar minha filhota numa instituição de ensino especial (pelo menos por enquanto isso não passa pela minha cabeça), mas fiquei pensando no quanto uma parceria com a AMA poderia ser benéfica ao seu desenvolvimento.

O fato é que saí dos dois "cursos" me questionando sobre como estimular melhor o aprendizado de Leti. Principalmente por que muitas vezes ela me surpreende, mostrando que sabe coisas que nem imaginava que ela sabia.

Fiquei com medo dos profissionais estarem subestimando-a e, com isso, deixando de estimular o aprendizado de conhecimentos que ela tem capacidade de adquirir.

Com base nas informações que obtive nos cursos, e nos livros que comprei lá, elaborei um questionário e resolvi reiniciar minha busca por uma escola inclusiva para Leti. Desta vez, com outro enfoque. Não estaria buscando uma escola acolhedora e que pregasse a atitude inclusiva, mas uma que tivesse um projeto concreto de inclusão, com um trabalho sistematizado e individualizado de adaptação curricular. No meu questionário, enumerei todos os fatores que achava importante saber se a escola continha e comecei minha pesquisa.

Comecei pela escola em que ela estudava. Depois, entrevistei outras quatro escolas, para definir se ela mudaria ou não de escola.

Quando marquei as visitas nas escolas, não antecipei que se tratava de uma criança especial. Não queria ter um discurso previamente preparado no meu atendimento, apostei na espontaneidade. Um risco!

Em apenas uma das escolas entrevistadas, a pedagoga que me atendeu soube me dar informações precisas sobre o processo de inclusão. Tudo que eu achava importante, na prática, era feito lá. Uma equipe multidisciplinar avaliava a criança por um período, planejava a adaptação curricular necessária, estudava a questão da terminalidade..., ou seja, havia, de fato, um trabalho individualizado para favorecer a inclusão da criança especial. Só o tamanho da escola me assustou.

Nas outras, precisaria marcar com um profissional específico para obter informações sobre o trabalho de inclusão.

Dentre estas estava uma altamente recomendada, por ser, inclusive, pioneira em matéria de inclusão em Salvador, e constituir centro de estudos sobre a temática. Nesta eu voltaria para conversar com a tal psicóloga, que eu até já conhecia, por ter palestrado no Simpósio, mas, em meio a minha caminhada, um fator me fez mudar de ideia.

Depois de entrevistar todas as escolas, e antes de marcar o retorno para esta, que eu achava que valeria à pena, começamos o acompanhamento de Leti com uma fono nova (já mencionei isso aqui, no final do ano passado). A fono me apresentou uma proposta tentadora: fazer um acompanhamento de perto junto à escola, com adaptação de material; com atividades paralelas para melhorar o funcionamento das suas mãos; enfim, com apoio irrestrito e contínuo à escola, para favorecer o desenvolvimento da minha pequena.

E seu entusiasmo me contagiou! Ela viu tantas possibilidades em minha filha, que não tive como recusar sua proposta.

E, ante essa nova possibilidade, achei melhor manter Leti na mesma escola em que estudava, escola com a qual mantivemos uma relação tão intensa, e tão rica, durante um ano e meio de nossas vidas. Principalmente por conta do momento de muitas mudanças que estamos passando: mudança de casa, mudança de rotina, mudança na família, que acabou de ficar maior...

Achei que mais uma mudança na vida de Leti talvez fosse contraproducente neste momento.

Voltei à escola, para conversar com a diretora e a coordenadora, e dar um feedback sobre a minha decisão, quando fiquei sabendo, para minha imensa felicidade, que a fono de Leti havia sido contratada para prestar uma consultoria à escola.

Neste momento, uma paz tomou conta do meu coração, me dando a convicção de que eu tinha tomado a decisão acertada.

Inclusão é uma tarefa difícil! Vontade de fazer inclusão já é um importante passo para que as coisas possam dar certo. Mas a vontade tem que andar junto com a capacitação profissional e com o trabalho árduo, especializado e consistente. E, mais uma vez, a escola da minha filha me mostrou que está atenta e disposta a fazer um trabalho sério  e de qualidade com as crianças que chegam por lá.

Um comentário:

Vaneska disse...

Jana, quando eu soube disso lembrei logo de Leti, mas acabei não te ligando para conversar. De qualquer forma, vc já tinha me dito que Leti iria ficar por lá mesmo. Fiquei feliz demais também... Afinal de contas, meu Luquinha vai para lá no próximo ano... Estou feliz com a escola. Que bom que vc tbm está. Sua intuição te encaminha muito bem. Não é a toa que é especial... Beijos em todos!

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